Yan Cattani/Flávio Calife

De acordo com a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) do IBGE divulgada hoje, novembro mostrou o segundo resultado mensal consecutivo positivo na análise dos dados com ajuste sazonal. A alta de 1,5% segue após elevação de 0,5% apresentada em outubro e ocorre após um período de 8 observações negativas do indicador.

A notícia seria realmente boa se a tendência dos dados também apresentasse resultados positivos. No entanto, observamos o pior resultado na avaliação acumulada em 12 meses dos últimos 12 anos, quando em novembro de 2003 o indicador apontou queda de 4,6%. Naquele fatídico ano, dezembro ainda conseguiu recuperar de forma inesperada as perdas geradas ao longo de 2003, fazendo com que o resultado anual encerrasse as vendas varejistas com queda de 3,7%.

Sem dúvidas, esse não é o prognóstico esperado para 2015. Até o momento observamos o menor nível médio de atividade varejista em 3 anos. E pior: podemos até mesmo atingir novo piso histórico do indicador, uma vez que as vendas já registram diminuição de 3,5% nos valores acumulados em 12 meses e as vendas de Natal apresentaram o pior resultado desde 2008, -2,8% de acordo com os dados da Boa Vista SCPC.

O resultado é reflexo do quadro negativo observado para todos os condicionantes do consumo. Os juros estão elevados e falta demanda por crédito no mercado, o que afeta diretamente as vendas de bens duráveis (móveis, eletrodomésticos e veículos, por exemplo). A inflação corrói o poder de compra dos consumidores - que já mostram dificuldades de pagar suas contas. Tal detalhe pode ser observado ao verificarmos os resultados obtidos das vendas de alimentos, artigos farmacêuticos e de perfumaria, que apresentaram queda, evidenciando a dificuldade das famílias até de manter o consumo de bens básicos.

O cenário ainda pode piorar: outras variáveis derivadas do mercado de trabalho como desemprego e renda ainda não encerraram seu ciclo de ajustes, fato que poderá complicar ainda mais a vida dos consumidores. Por parte das empresas, o ajuste nas despesas operacionais alimenta um verdadeiro círculo vicioso, diminuindo custos, investimentos e postos de trabalho. A retomada do crescimento no comércio só virá quando a instabilidade econômica der uma trégua, o que não deve ocorrer ainda em 2016.