Ontem, pela primeira vez, a autoridade monetária admitiu que o ano de 2015 terá inflação acima do teto da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional. Apesar da declaração revelar absolutamente nenhum fato desconhecido, é a maneira que o Banco Central utiliza para sinalizar ao mercado suas condutas futuras com relação à política monetária corrente.

Na ata de número 191, o comitê afirmou que “reafirma sua visão de que a política monetária pode e deve conter os efeitos de segunda ordem deles decorrentes, para circunscrevê-los a 2015”. Dito de outra maneira, uma vez que não será possível conduzir os níveis de preços abaixo do teto oficial neste ano, o sacrifício deverá ser realizado integralmente agora, para que em 2016 essa decisão não seja repetida.

A decisão por elevação em mais 0,5 p.p. da Selic por si só já havia demonstrado reforço do tom de austeridade utilizado nos últimos discursos. Contudo, o BC também fez questão de incluir em sua ata oficial duas novas palavras, determinação e perseverança, ressaltando seu caráter hawkish, fator que já leva o mercado a prever adicionais elevações na taxa básica de juros ainda para este ano - ainda mais se considerarmos os últimos resultados do IPCA, acima das expectativas de mercado.

Em termos de estratégia de política monetária, duas são notórias: a gradualista, estratégia atualmente vigente que baseia-se na elevação dos juros aos poucos de modo a evitar uma queda abrupta da atividade; ou a chamada “cold turkey”, com subida abrupta dos juros e, consequentemente, recessão iminente, porém com recuperação da atividade econômica geralmente mais rápida. Se a ideia era evitar a queda da atividade econômica e manter o nível de emprego, algo caminhou errado, já que no próximo trimestre a atividade econômica deverá finalmente adentrar em terreno recessivo, a inflação não baixou e o desemprego provavelmente deverá manter sua tendência de alta. Talvez um choque de juros tivesse sido uma boa estratégia, mas como não vale a pena lamentar as perdas, ganha mais quem conseguir prever as próximas jogadas da autoridade monetária.