Por José Valter Martins de Almeida, da RC Consultores

O Banco Central Europeu anunciou hoje um conjunto inédito de estímulos monetários. Reduziu em 10 pontos base a taxa de juro de referência para o mínimo histórico de 0,15% ao ano, além de uma diminuição inédita para valores negativos de taxa sobre depósitos, ou seja, os bancos terão que pagar para deixar os recursos no BCE. Mas a principal medida foi um pacote de operações direcionadas ao refinanciamento de longo prazo de 400 bilhões de euros, com duas características: o setor público é excluído e apenas o setor privado não financeiro é elegível. Além disso, o presidente do BCE, Mario Draghi, anunciou a manutenção, até pelo menos 2018, das regras mais flexíveis em vigor quanto à aceitação de colaterais para atribuir empréstimos aos bancos.

É importante observar que a estratégia do BCE está cada vez mais longe do rumo do FED. A retomada na zona do euro continua frágil e a evolução dos preços é prova disso. Neste cenário o BCE se viu forçado a uma política expansionista, em contraciclo com o FED. Na verdade, desde 2007 se observou divergência estratégica entre o BCE e FED. Há uma diferença fundamental entre o FED e o BCE: é que na zona do euro não há uma contraparte orçamental do banco central que lhe permita recorrer a ativos seguros, emitidos por uma entidade segura, sem risco de crédito. É a diferença entre ser o banco central de um país ou de vários países. Essa estrutura cria uma tendência para o BCE atuar de forma mais cautelosa que o FED em função dos riscos orçamentais. As medidas tomadas hoje terão impacto nos mercados financeiros no médio prazo, em especial nos juros das dívidas soberanas da região, que tendem a cair, além de impactar nas ações europeias e no euro, que deverá depreciar ainda mais face ao dólar.