Por Paulo Rabello de Castro, da RC Consultores

Após muita contemporização com a guerra civil que agora assume aspectos de genocídio na Síria, os países da OTAN se moveram na direção de colocar o peso do seu arsenal para acelerar o fim do conflito. Os mercados reagiram com força. O ouro subiu para sua maior alta em três meses. O dólar e o euro também sobem, desvalorizando mais os emergentes e atraindo os capitais voláteis de volta para casa. O petróleo, item mais sensível, já subiu 4% nos últimos dias. O cenário não é favorável às commodities que o Brasil exporta e importa. Nesse contexto de mau humor e adversidade contra o que parecia ser antes um céu de brigadeiro para os emergentes, o Brasil não é o pior destaque na ótica cambial. Desde que o Banco Central brasileiro anunciou seu plano de intervenção sistemática, os especuladores tomaram atitude de maior prudência quanto às apostas de alta continuada do dólar frente ao real.

Hoje o Banco Central decide a elevação da taxa de juros, que o mercado em peso espera se situar em 0,5 ponto percentual. Nada indica que o COPOM venha a frustrar a expectativa em torno dessa aposta. Mas é interessante considerar o seguinte: se a decisão fosse de surpreender o mercado com uma alta ainda mais expressiva, como 0,75 ponto ou de até 1 ponto, nesta rodada, qual seria a tendência do dólar no dia seguinte? Certamente ocorreria forte acomodação da taxa de câmbio numa cotação bem mais baixa. Esse é o tipo de recurso que o BC sempre poderá usar se perceber que o efeito de realimentação inflacionária da desvalorização em curso estiver a ponto de superar o benefício antevisto de recomposição da competitividade externa dos setores produtivos, em especial da indústria.

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