Por Flávio Calife, da área de Indicadores e Estudos Econômicos da Boa Vista SCPC

Os resultados das vendas do varejo em 2014 divulgados hoje pelo IBGE ficaram bem abaixo de qualquer previsão feita no início do ano. Nem os analistas mais pessimistas começaram o ano passado esperando um crescimento menor do que 3% nas vendas do setor. Mês a mês as expectativas foram piorando à medida que os resultados foram aparecendo.

O ano fechou com um crescimento no varejo restrito de 2,2%, o menor crescimento desde 2003. Pior ainda foi o resultado do varejo ampliado (quando somamos ao varejo restrito as vendas de “Veículos, Motos e Peças” e “Materiais de Construção”), que recuou 1,7% na comparação com ano anterior, influenciado pela forte queda de 9,4% nas vendas de veículos. O único destaque continua sendo o setor de “Artigos farmacêuticos, e perfumaria” sustentando elevado crescimento de 9%, mesmo após ter apresentado resultados acima dos dois dígitos nos últimos 6 anos. Em termos regionais, as maiores contribuições partiram das regiões Norte e Nordeste, que em 2014 sustentaram crescimento mais vigoroso, 7,1% e 3,7% respectivamente, enquanto as demais regiões cresceram cerca de 2%.

O varejo tem sido considerado um símbolo da inserção da nova classe média brasileira no mercado de consumo, resultado até então influenciado pela relativa estabilidade dos preços, do aumento real da renda e da disseminação do acesso ao crédito. Entre 2007 e 2012, o crescimento médio das vendas foi de 8,5%. Em 2013 as vendas começaram a sofrer os primeiros efeitos da desaceleração econômica, fechando em 4,3%.

Não há razões para acreditarmos na recuperação do segmento em 2015. Os fatores condicionantes para o crescimento das vendas não serão capazes de sustentar a retomada. A renda está crescendo menos, o crédito está mais caro e escasso e a pressão inflacionária será ainda mais alta. Ademais, a alta do dólar deverá azedar as vendas de parte dos comerciantes. Fruto disso, a confiança do consumidor vem despencando mês a mês e já atingiu o ponto mais baixo da série histórica iniciada em 2005. Robustas taxas de crescimento estão bem distantes e o esforço do setor deverá ser grande para não amargar resultados negativos em 2015.