Por Paulo Rabello de Castro, da RC Consultores 

Por trás das deliberações políticas conduzidas por Obama sobre o "abismo fiscal", está a preocupação crescente do mercado e dos políticos com a marcha dos gastos correntes nos EUA. Em outubro, primeiro mês da execução do Orçamento 2012/2013, o déficit mensal saltou 22% sobre igual mês de 2011. Enquanto a arrecadação cresceu bem, em 13% sobre outubro de 2011, as despesas aumentaram mais rápido ainda, em 16,4%. O número absoluto do déficit assusta: US$ 120 bi em apenas um mês, projetando mais US 1 trilhão anual, sobre os trilhões de déficit já incorridos nos quatro últimos anos. Com isso, a dívida federal americana assume uma trajetória insustentável.

A maior preocupação do mercado, que o setor político começa a capturar, é com o futuro serviço dessa enorme dívida, que já supera US$ 16 trilhões (mais de 100% do PIB). Hoje o custo de rolar a dívida é suportável porque os juros são próximos de 2% ao ano, na média das várias maturidades. A perspectiva de os EUA virarem um país de confiança limitada em sua capacidade de pagamento será testada nas negociações em curso do Congresso americano com a Casa Branca. Se Obama falhar no convencimento ao mercado, não apresentando uma proposta de ajuste fiscal clara e persuasiva, arrisca mais do que apenas cair no abismo fiscal; ele pode ser responsável por uma inversão na coragem do mercado em continuar comprando títulos da dívida americana. Ai seria o abismo financeiro. Os primeiros sinais dessa recusa do mercado começam a aparecer entre os investidores estrangeiros, atualmente ainda os maiores compradores de papéis emitidos por Tio Sam.

Ed.72