Um dos maiores paradoxos recentes da economia brasileira começa a ser desmontado. Enquanto a maior parte dos indicadores econômicos apresentou sensível piora nos últimos anos, o mercado de trabalho parecia alheio às más notícias e permanecia como principal baluarte da política econômica. No entanto, os últimos dados divulgados pelo IBGE nesta quinta-feira apontam sensível piora para sua Pesquisa Mensal do Emprego. A taxa de desemprego em fevereiro registrou alta de 0,6 p.p. com relação a janeiro, atingindo 5,9% de desocupação da população ativa e subindo 0,8 p.p. com relação a fevereiro de 2014.

Os rendimentos reais também começam a perder o fôlego, com o valor médio habitual de R$2.163,20 caindo 0,5% na média interanual. Na comparação mensal, os rendimentos apresentaram recuo de 2,1%. Em termos regionais, o desemprego nas regiões metropolitanas do Nordeste, especificamente, atinge níveis preocupantes. Salvador lidera a lista com 10,8% de desocupação, e Recife aponta taxa de 7,0%.

O mercado de trabalho mostra grandes sinais de desaquecimento. Os dados refletem ao mesmo tempo a redução da ocupação e o crescimento da procura por trabalho. A perspectiva de deterioração é inevitável: o mau andamento da economia e o consequente aumento das demissões em diversos segmentos produtivos (sobretudo no setor industrial) consolida-se mês a mês; barreiras sobre diversos benefícios trabalhistas, fruto das medidas de ajuste fiscal, também já mostram os primeiros impactos no aumento do desemprego e na queda dos rendimentos reais. A inflação, que deverá rondar próxima de 7,5% no ano, também colaborará adicionalmente para o aperto real dos ganhos.

Neste cenário o desemprego deve continuar em trajetória de alta, elevando-se cerca de 1,5 p.p., e ultrapassando os 6,5% ao final de 2015. O rendimento real, que vinha crescendo a taxas médias de 3,0% ao ano deve desacelerar para um patamar de crescimento próximo a 0,8%.