As expectativas inflacionárias deverão sofrer alterações consideráveis na próxima semana, em grande parte devido ao downgrade de risco do país realizado nesta semana pela agência Standard & Poors (S&P). Esta decisão certamente afetará a política monetária vigente e consequentemente a inflação.

Como para este ano o aumento de juros já não possui mais eficácia com relação ao combate inflacionário (alterações nos juros demoram cerca de 6 meses para surtir algum efeito na inflação), e com a disparada recente do dólar (que deverá ser agravada), as expectativas para o nível de preços deverão permanecer acima dos 9%. Entretanto, a hipótese mais provável é que haja agora um aumento da Selic, de modo a sinalizar para o mercado que o Banco Central deseja, pelo menos, cumprir uma inflação dentro dos limites da meta inflacionária (até 6,5% no ano que vem).

Os impactos no bolso do consumidor são preocupantes. Em agosto, o indicador de recuperação de crédito da Boa Vista SCPC* apontou queda de 2,0% na comparação acumulada em 12 meses (período que abrange setembro de 2014 até agosto de 2015 contra os 12 meses antecedentes).

Esta queda do indicador pode ser explicada pelo cenário de deterioração das variáveis macroeconômicas, como o desaquecimento do mercado de trabalho, inflação em níveis elevados, aumento dos juros, entre outros fatores que impactam diretamente nos orçamentos familiares. Nos últimos meses, o indicador chegou a ensaiar alguma melhoria, contudo, com este novo e grande revés do ambiente macroeconômico, a probabilidade de que esta tendência se perpetue torna-se praticamente nula.

Para o ano que vem, o câmbio desvalorizado deverá pressionar mais fortemente do que em 2015 os preços livres, fazendo com que os juros continuem em trajetória de alta. O efeito S&P proporcionará certamente maior rigidez fiscal em 2016 e os preços administrados deverão sofrer maiores ajustes. Portanto, o atual cenário macroeconômico debilitado deve permanecer. Inclusive o aperto dos orçamentos familiares provavelmente será maior do que o que já ocorre em 2015, dificultando os pagamentos de dívidas. E, com isto, a tendência de queda da recuperação de crédito deverá se manter.