Por Flávio Calife, da área de Indicadores e Estudos Econômicos da Boa Vista SCPC

Os efeitos da Operação Lava Jato ainda estão longe de terminar, mas as empresas supostamente envolvidas nas denúncias já sofrem consequências que preocupam funcionários, investidores e credores. A Sete Brasil, companhia criada pela Petrobras para gerenciar compras de sondas para o pré-sal, está deixando de cumprir uma série de obrigações financeiras. Na última sexta-feira, o estaleiro Atlantico Sul (EAS), que pertence às construtoras Camargo Corrêa e Queiroz Galvão, comunicou a sua intenção de cancelar o contrato com a empresa, pois não recebe pagamento desde novembro do ano passado. Estima-se que os montantes dos contratos com as empresas fornecedoras somem mais de U$ 25 bilhões.

O estaleiro Enseada, dos grupos Odebrecht, OAS e UTC, já demitiu mais de 4 mil funcionários desde 2014, e afirma ter deixado de receber mais de R$ 500 milhões. Em entrevista recente, o presidente da Constran, holding da UTC, declarou que o governo federal está usando a premissa da Lava-Jato para não honrar os contratos firmados com as empresas. O caso da Engevix também evidencia a paralisação das obras e investimentos. A empresa foi fortemente afetada pela Operação e nos últimos dois anos, mais do que dobrou o seu endividamento, enfrentando hoje boatos sobre sua insolvência.

Boa parte do problema ocorre porque as declarações recebidas pela Operação minaram as possibilidades de liberação de recursos de longo prazo pelo BNDES, que acuado, preferiu deixar para a próxima diretoria as decisões sobre novos empréstimos relacionados às empresas citadas. Além disso, a situação dessas empresas também assusta investidores. Levantamento da consultoria Economatica estima que os fundos de investimento reúnam mais de R$ 7 bilhões em papéis de 7 empresas denunciadas, metade em fundos da Caixa Econômica Federal (CEF). Esse montante representa somente 0,3% da indústria de fundos do país, mas o efeito contágio é sempre imprevisível.

A CEF também afirma possuir via FI-FGTS (fundo que utiliza uma fatia de recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) R$ 11 bilhões aplicados em empresas citadas na Operação, mais de um terço do total dos recursos do fundo. Aí sim uma situação bem mais delicada.