Por José Valter Martins de Almeida, da RC Consultores

As yields das obrigações soberanas de 10 anos, prazo de referência na zona do euro, continuam a trajetória de queda no mercado. As taxas mínimas históricas alcançam Itália, França, Áustria, Bélgica, Holanda, Finlândia, Irlanda, Espanha e Portugal. No caso de Portugal, por exemplo, a taxa de 2,98% a.a. nunca foi registrada na história da dívida desde 1820.

Continua a repercutir nos mercados financeiros o discurso de Mario Draghi, presidente do BCE, no simpósio realizado em Jackson Hole organizado pelo FED no final da semana passada. Draghi acentuou que as políticas monetárias europeia e americana estão em trajetórias divergentes, com a zona do euro prosseguindo por período prolongado a política de estímulos, o que poderá incluir medidas “não convencionais” de “alívio”, se necessário. A situação de estagnação da economia da zona do euro no segundo trimestre, incluindo a Alemanha, e a inflação muito baixa, distante da meta de 2%, sugere que o BCE está pronto para agir. O mercado aposta que os estímulos do BCE vão ser reforçados já na próxima reunião mensal de setembro. Do outro lado do Atlântico, o FED sinaliza que os juros começarão a subir em 2015. A reação do mercado à possibilidade de subida de taxas de juros nos EUA demonstra que devemos ficar atentos aos riscos do final de um ciclo de taxas de juros artificialmente baixas. No caso do Brasil, a situação se agrava pela dependência dos preços das commodities. O cenário de 2015 não promete ser fácil para o setor externo brasileiro. Apenas a economia dos EUA se sobressai. E ela sozinha não consegue sustentar o crescimento da economia mundial.