Por Paulo Rabello de Castro, da RC Consultores

A próxima semana traz reunião do FED na agenda mundial. Será um momento decisivo para o novo recado aos mercados financeiros: a bonança do juro muito baixo, ou até negativo em termos reais, está próxima do fim, encerrando uma etapa de políticas monetária e fiscal de pura acomodação da crise financeira global que, por coincidência, faz cinco anos de vida nestes dias. Em setembro de 2008 explodia o Lehman Brothers e, contrariamente ao que se divulga, estava mesmo fadado à quebra, fizesse o que quisesse a autoridade monetária americana. A corretora foi apenas o estopim do pânico. Os juros vieram a zero quase no mundo todo para impedir a generalização da crise de desemprego. A China teve papel decisivo ao reinflar de crédito fácil sua própria economia. O Brasil, contrário que se pensa, foi sócio da crise, ao se beneficiar dos preços de commodities em todo o período pós-Lehman.

O ciclo de juro zero com especulação altista em commodities começa a se inverter. É apenas o começo. As taxas de títulos federais de dez anos de prazo nos EUA estão negociadas a 2,95%, as mais altas desde 2011. Na Alemanha, bastião da estabilidade financeira, o título equivalente é transacionado a 2,06%, também o valor mais elevado em dois anos. Juros muito baixos e commodities em alta não chegarão ao fim de modo súbito. O FED negará suas intenções reais. Mas acontecerá. E trará um duro ajuste de contas públicas e de margens privadas aos negócios no Brasil. O ano de 2014 ficará mais complicado por isso. O câmbio pressionado por commodities em baixa vai requerer novas altas de juros, como já acontecem, para moderar os efeitos inflacionários sobre o custo de vida. O nível de emprego e vendas no comércio sofrerão recuos expressivos em suas taxas de expansão no ano que vem.

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