Por José Valter Martins de Almeida, da RC Consultores

Para alguns historiadores, faz hoje cem anos que começou a Primeira Guerra Mundial. Para alguns, há ainda cicatrizes abertas. Com a queda do muro de Berlim, uma nova geração de jovens cresceu acreditando que a Europa estaria predestinada a um futuro de paz, ainda que assistindo a conflitos com graves implicações como no Iraque e no Oriente Médio. Contudo, a crise ucraniana, com mais de mil civis mortos e a recente queda do Boeing da Malasya Airlines, presumidamente causada pelos separatistas russos, despertou fantasmas do passado, colocando a geopolítica europeia no centro do debate. A Ucrânia é importante para a União Europeia e essencial para os russos.

Desde a tomada da Crimeia, Europa e EUA impuseram sanções aos russos. Se de um lado as sanções e declarações oficiais dos EUA endurecem e aumentam o tom, os líderes europeus assumem posição mais tímida. Isso se explica porque os custos para a Europa de enfrentar Moscou são mais elevados. A Alemanha depende de 35% do gás russo, 4% de suas exportações vão para a Rússia e mais de seis mil empresas alemãs operam na Rússia. A França tem um contrato milionário de venda de material militar com a Rússia e o Reino Unido tem seus mercados abertos aos capitais e milionários russos. Ainda assim, as medidas anunciadas até o momento têm tido efeito. Se olharmos para o comportamento dos mercados, o rublo continua sobre pressão. Estima-se que US$ 74 bilhões já deixaram a Rússia este ano. O governo russo já cancelou, até julho, nove leilões de dívida devido a “condições desfavoráveis”. Os investidores já começam a questionar o tempo que Moscou pode aguentar sem financiamento do mercado. Tudo indica que as sanções vão aumentar, e a Europa estaria mais disposta a enfrentar Moscou. A geopolítica europeia está de volta e os riscos econômicos aumentaram.