Por Paulo Rabello de Castro, da RC Consultores

O ONS – Operador Nacional do Sistema Elétrico – órgão federal responsável pela condução da oferta de energia elétrica no País demorou a explicar a causa real da queda de fornecimento que ontem afetou 11 estados e mais de seis milhões de usuários finais do sistema. O ONS pôs a culpa na sobrecarga geral que havia obrigado o Operador a “importar” mais energia do que a habitual, vinda do Norte (Tucuruí), representando cerca de 8% da carga do País. O fato por trás do episódio ficou relegado: há aumento substancial da demanda no sistema como um todo, que opera também as termelétricas, neste momento, com carga total. E, simultaneamente, uma severa diminuição da oferta de carga pelas hidrelétricas, que estariam sendo poupadas nos vertedouros, até por não haver água suficiente nos reservatórios para atender à soma da demanda atual, neste período que seria de recomposição de reservatórios, com a demanda futura, que utilizaria, no período seco, a água economizada agora.

A questão mais espinhosa é a oferta futura de energia. Por sorte, a demanda industrial será fraca em 2014, conforme se projeta, e os custos na ponta do mercado livre já explodiram. Assim, setores muito intensivos em energia e que já têm suas demandas contratadas, como o de produção de alumínio, por exemplo, enxergam mais racionalidade em conter ou paralisar sua produção industrial e revender a energia no mercado livre, apurando mais caixa do que com a venda do seu produto. Porém, as demandas residencial e comercial continuam extrapolando previsões. O governo errou ao usar politicamente a redução do custo da conta de energia no ano passado, assim estimulando uma demanda que precisava ser contida. Empurrou a demanda enquanto a oferta literalmente encolhia. Armou uma bomba que deve repercutir num período eleitoral e, talvez, apresentar-se de modo mais grave durante os eventos esportivos. Não poderia haver uma confissão mais gritante de má gestão.

Ed.358