Por Paulo Rabello de Castro, da RC Consultores

Na noite de ontem, os governos europeus e o FMI acordaram (sem divulgação de detalhes) mais um acordo – o terceiro, desde maio de 2010 – que livra a Grécia de inadimplir seus compromissos de modo desordenado, o que traria ainda maiores repercussões negativas para a região e, de resto, para a economia mundial em 2013. Mesmo com os cortes de juros e postergações de pagamentos para além de 15 anos no serviço da dívida – o que se traduz na prática como uma redução no valor real do estoque da dívida grega – o FMI projeta um quadro de estresse financeiro por muitos anos. Após os cortes do passivo, os compromissos gregos ainda ficarão em 124% do PIB em 2020 pelas contas do FMI. Realisticamente, é impossível projetar com precisão em situação tão adversa de uma economia de país.

O interesse dos governos neste momento é promover uma recompra direta no mercado, propiciando saída a credores angustiados, que aceitariam fortes descontos, correspondentes a yields de 13 a 16% ao ano, dependendo da maturidade do título. Será uma caminhada lenta e penosa, que lembra a da dívida brasileira nas décadas de 1980 e 1990. Com duas diferenças: nossa dívida nunca chegou perto de 100% do PIB, enquanto o potencial brasileiro de produzir dólares de exportação foi sempre maior do que o da franzina economia grega. A estreiteza de opções deixa os gregos amarrados por longo tempo, fórmula certa para mais instabilidade.  A OCDE acaba de prever que o PIB grego se contrairá mais 4,5% em 2013.

Ed.77