Por Paulo Rabello de Castro, da RC Consultores

Com uma taxa de apenas 5,125% para um título de € 500 milhões, o Banco Piraeus inaugurou o retorno de uma instituição grega ao mercado de capitais após quase seis anos de portas fechadas. Houve cerca de € 3 bilhões em ofertas de compra, o que indica o tamanho do apetite do mercado global, num momento em que a liquidez internacional persiste em grau extremamente elevado e as taxas de juros são muito baixas em termos absolutos, mesmo quando considerados riscos de emissores corporativos e de países recém-saídos da lista de banimento, como a Irlanda e a Espanha. Nem a crise da (quase) anexação da Crimeia pela Rússia conseguiu abalar a confiança (ou euforia) dos investidores.

Reforçando a confiança europeia numa recuperação à vista, a Suprema Corte alemã bateu o martelo sobre uma disputa que pairava sobre a legalidade da participação do governo de Angela Merkel nos programas de socorro financiados pelo Mecanismo Europeu de Estabilidade. A Corte decidiu, sem ressalvas, que tal participação não só é legal como pode ser ampliada pelo Parlamento alemão, desde que embarcada em programas que não sejam a fundo perdido e possam ser revertidos por "futuras maiorias políticas". É uma decisão que endossa o plano por "uma Europa unida", capitaneado por Merkel. No mesmo dia, a Troika, que supervisiona as contas fiscais da Grécia, aprovou a renovação dos créditos àquele país para a rodada de maio, argumentando que a Grécia surpreendeu com um superávit primário de € 800 milhões, dos quais a Troika permitirá ao governo grego usar € 500 milhões para financiar programas sociais. Essa é uma lição que o Brasil não enxerga: embora credor líquido, o Brasil paga juros nivelados com a Grécia e se obriga a superávits primários em proporção superior à exigida de países quebrados. Parte dessa diferença se explica, claro, pelo guarda-chuva dos vizinhos alemães. As finanças do Brasil continuam "na chuva", por duas décadas do Real.

Ed.383