O atual jogo entre o Executivo e o Legislativo, principalmente sobre o dilema dos cortes orçamentários, pode não ser o ideal para os interesses da sociedade. Aparentemente, John Nash está cada vez mais vivo no cenário político brasileiro. Segundo a teoria explicada pelo brilhante matemático, em 1951, conhecida como o Equilíbrio de Nash, os jogadores tomam as melhores decisões em função do comportamento ótimo de seus concorrentes ou adversários. Mas nem sempre o equilíbrio de Nash é o desejável, principalmente em um ambiente político de coalização.

Quando observamos o processo orçamentário brasileiro sobre o prisma dos jogos repetidos, percebemos que esse equilíbrio pode ser nocivo. Isso acontece, por exemplo, quando o Executivo promete não contingenciar recursos orçamentários de interesse do Legislativo em troca de um apoio incondicional.

A situação oposta também é verdadeira. Devido à atual necessidade do ajuste fiscal para a retomada de confiança, o Executivo foi obrigado a propor medidas de contingenciamento de emendas parlamentares. Com isso, o Legislativo se sentiu motivado a barganhar projetos de seu próprio interesse que até então estavam adormecidos.

Essa coalizão pode causar distorções ao distribuir os recursos orçamentários em proveito apenas dos jogadores, e não da sociedade, tornando essa cooperação um novo equilíbrio possível, que nem sempre é o ideal. De acordo com Nash, o Legislativo está fazendo o melhor que pode em função daquilo que o Executivo está fazendo. O provável desfecho do ajuste fiscal está muito mais próximo do possível do que do desejável.