Por Paulo Rabello de Castro, da RC Consultores

Dados da Fundação IBGE e do MDIC dão conta de mais um recuo da indústria e do comércio exterior, respectivamente. Na balança comercial, o dado se refere ao encerramento de agosto, que só ficou positivo por conta de uma operação de “sale-lease back” de plataforma da Petrobras, no valor de US$ 1,1 bilhão. Com isso, o acumulado da balança está praticamente zerado no ano até agosto. Concorreram, para esse resultado fraco, as exportações em queda para nosso principal parceiro, a China, com queda significativa de 18%. O Brasil, cada vez mais dependente de soja e minério de ferro, teve recuo no desempenho principalmente deste último, mas toda a cadeia de commodities deve ser afetada negativamente até o final do ano. Se o “hiperciclo” de preços altos estiver no fim, como se antevê, o País dificilmente conseguirá retornar a valores positivos na balança comercial de 2015.

A indústria influiu no resultado do comércio exterior pela queda na demanda brasileira, confirmando a recessão de consumo interno e, especialmente, de investimentos. Este forte recuo está documentado em dois números impressionantes: queda de 7,3% na importação de máquinas frente a agosto de 2013, confirmando o recuo na produção brasileira de bens de capital em 5,3% no acumulado jan-jul 2014, sobre igual período de 2013. E um mergulho de 16% em importações brasileiras de automóveis neste agosto, confirmando os 17% de queda na produção interna acumulada até julho. O Brasil se aproxima de 2015 em situação que lembra o quadro complicado de 1998 e de 2002. Num desses casos (2002), deu alternância política; no outro (1998), não. Em ambos, o câmbio teve que sofrer um forte ajuste pós-eleitoral. O que há de diferente este ano é que, apesar da fraqueza do desempenho industrial e do comércio exterior, o Brasil pratica uma política de juros altos com ampla reserva cambial. Portanto, a falta de competitividade e o ambiente recessivo, por conta do real muito valorizado, tendem a persistir por bastante mais tempo.