Por Paulo Rabello de Castro, da RC Consultores

A piora do humor do mercado sobre os emergentes em geral pegou o governo no contrapé de sua política expansionista, creditícia e fiscal, com a qual pretendia estimular a recuperação do PIB fraco do ano passado. O mau humor externo se materializou em alta súbita do câmbio e revisão para cima da expectativa da inflação futura. O efeito foi duplo: queda da bolsa e subida íngreme dos juros futuros. Quanto maior o prazo dos juros no futuro, maior a pancada em termos de prejuízo. O título NTN-F de 2035 está pagando IPCA mais 5,85%, alta de 200 pontos na taxa, refletindo perda superior a 10% no preço do papel. Quando os juros sobem, os preços dos títulos caem, sinalizando aperto creditício.

O governo foi pego de surpresa. Na contramão, na mesma semana lançava uma linha bilionária de financiamento rápido para montar e decorar a casa dos mutuários do Minha Casa Minha Vida. Serão mais de R$3 bi para as classes C e D irem às compras. É medida interessante, porém no momento errado, quando os mercados sinalizam a necessidade de vários emergentes apertarem o cinto. Nas próximas semanas, haverá queda de braço entre o Bacen, que precisa sinalizar mais austeridade, e o governo, que ainda quer ver milhões de famílias indo às compras. A inflação dirá que política vence.

Ed.205