Enquanto o tempo vai passando e importantes pautas econômicas ainda estão em discussão, a inevitável constatação da deterioração da economia e piora nos resultados fiscais já dão um sinal do que ainda está por vir. Segundo o IBGE, o PIB (Produto Interno Bruto) recuou 0,2% no 1º trimestre de 2015 na análise contra o trimestre imediatamente anterior dos dados dessazonalizados, atingindo R$ 1,4 trilhão no período. Na comparação do 1º trimestre de 2015 contra o mesmo período do ano anterior (análise interanual) a queda foi de 1,6%. Quanto a análise da tendência - variação acumulada em 4 trimestres – o resultado passou de 0,1% no 4º trimestre de 2014 para -0,9% no primeiro trimestre do ano.

Os resultados do início do ano apenas concretizam as desconfianças dos agentes econômicos. E talvez a constatação mais importante venha do lado da demanda. A principal abertura, representada pelo consumo das famílias, apresentou sua maior queda desde a crise de 2008, 1,5% no trimestre, descontados efeitos sazonais. Pela ótica da oferta, o setor de agropecuária foi o único a sustentar crescimento, com elevação de 4,7%. Ainda assim, devido à sua baixa representatividade frente às demais atividades econômicas – representa cerca de 5% do total da atividade econômica - não foi possível compensar as perdas nos setores de serviços e indústria, que caíram 0,7% e 0,3%, respectivamente, mantida a base de comparação.

Adicionalmente, ofuscado pelos dados do IBGE, o Banco Central (BC) divulgou o desempenho fiscal de abril, a maior preocupação do atual ministro da Fazenda. As contas públicas pioraram ainda mais seu déficit em 12 meses, que passou de 0,70% do PIB para 0,76%. Como afirmado no próprio “Foco Boa Vista” de ontem, somente cortes de investimentos não conseguirão dar conta da meta proposta pelo ministro, o longínquo superávit de 1,2%; faz-se necessário profundos cortes de custeio.

Para o PIB, resultados piores podem se confirmar nas próximas aferições e não será surpreendente caso ocorra uma queda maior que 2% na atividade neste ano. Em âmbito fiscal, a demora do ajuste deve afetar o resultado do próximo ano, uma vez que para 2015 o desempenho das contas públicas já está bastante comprometido. Se o foco das políticas de austeridade era obter maior confiança na economia e algum crescimento econômico já em 2016, talvez seja hora de repensar as estratégias e por na ponta do lápis os sacrifícios necessários para uma real retomada da economia.