Por Paulo Rabello de Castro, da RC Consultores

A morte longamente anunciada ocorreu ontem: a OGX entrou com pedido de recuperação judicial na Justiça do Rio de Janeiro. Sérgio Bermudes, experiente concursista, será o advogado da empresa postulante. O procedimento se inicia com o levantamento da dívida integral, algo que ainda se desconhece no detalhe, embora tenha sido publicado o valor de R$ 11,2 bilhões, dos quais aproximadamente 60% seriam devidos aos credores no exterior, o que complica o andamento do processo. Uma vez apresentada a proposta de renegociação, esta deverá ser submetida a um comitê de credores. O juiz também deverá decidir se a empresa continuará a ser administrada pelos atuais controladores. Nesse meio tempo, pode se imaginar o grau de deterioração operacional a ser incorrido pela postulante à recuperação. A cada dia que passa, as chances de reposição dos valores diminuem.

Há complicações nesta recuperação que poderão conduzir a impasses sufocantes. Um deles é a possibilidade de perda das concessões ainda detidas pela petroleira. Em caso de decretação de falência, as concessões serão perdidas. A OGX busca compelir a Petronas, petroleira malaia, que chegou a se aproximar do grupo com vistas a desenvolver a produção do campo de Tubarão Martelo, com o objetivo de fazer esta última desembolsar recursos supostamente prometidos para tal exploração. Óbvio que este caminho se afigura o pior possível. A Petronas se defenderá e, quanto mais compelida, mais se afastará do imbróglio. No cenário mais provável, os minoritários perderão maciçamente, ainda que lutando por direitos, tanto na Justiça como perante a CVM. Os credores, para recuperar alguma coisa, dependem da continuidade do negócio, cuja evolução dependeria de um novo administrador prontamente nomeado, o que não deve acontecer. A imagem empresarial e institucional do Brasil sai mais do que arranhada. O País permitiu que o governo “elegesse” Eike como seu totem empresarial e, agora, temos um ídolo caído. Por meio da contribuição das empresas X, o Brasil finalmente entrou na crise de 2008. Este episódio será lembrado como nosso Lehman Brothers.

Ed.304