Por José Valter Martins de Almeida, da RC Consultores

A agência de classificação de risco S&P rebaixou a nota de crédito do Brasil de BBB para BBB-, o último nível considerado como grau de investimento. O argumento central da agência é a questão fiscal. Em nota, a S&P diz que “apesar da recente reprogramação orçamentária, será difícil atingir a meta de 1,9% do superávit primário sem recurso de receitas extraordinárias. A implementação das medidas recentes anunciadas para evitar as perdas do setor elétrico, sem ter aumentado a tarifa de energia em ano eleitoral, será desafiadora.” A agência rebaixou também as notas das estatais Petrobras e Eletrobras para BBB-.

Embora tenha sido surpresa neste momento, o anúncio da nota BBB- não deve ter grande impacto nos mercados, uma vez que o rebaixamento já estava precificado nos ativos brasileiros. O fato da agência manter a nota estável, sem perspectiva negativa, indica que não haverá perda de grau de investimento a curto prazo. O corte na nota também não deve prejudicar gravemente a estratégia do Tesouro de fazer uma emissão de bônus no mercado europeu. Embora o argumento da questão fiscal e crescimento baixo possam ser usados como justificativa para o rebaixamento, a verdade é que a nota BBB da agência de classificação americana não parecia adequada. As despesas correntes crescendo acima do PIB há anos, o perfil da dívida pública, a taxa de investimentos abaixo do desejável no Brasil, os precatórios e a alta e complexa carga tributária são alguns dos fatores que não são compatíveis com nota de risco de crédito BBB.

Ed.387