13 de novembro de 2018 – Se em agosto as vendas do varejo surpreenderam positivamente ao crescerem 2% na comparação com julho, já descontados os efeitos sazonais – dados revisados –, em setembro a surpresa foi negativa, com queda de 1,3% em relação ao mês anterior.

Em nota divulgada no mês passado, os economistas da Boa Vista SCPC já alertavam que, especialmente em períodos afetados por eventos atípicos, como este ano, em que o movimento do comércio foi impactado pela greve dos caminhoneiros em maio e pela Copa do Mundo em junho, dados mensais tendem a apresentar maior volatilidade, de forma que a interpretação das variações exige certa cautela.

Neste sentido, a análise da evolução acumulada em 12 meses das vendas fornece pistas mais interessantes a respeito do que está acontecendo com o varejo brasileiro neste ano, especialmente quando é analisado o desempenho do comércio varejista por setor.

 

Conforme é possível observar no gráfico acima, que apresenta a evolução da variação acumulada em 12 meses do volume das vendas dos principais setores que compõem o varejo restrito, os segmentos de combustíveis e lubrificantes, vestuário e calçados e móveis e eletrodomésticos estão segurando o desempenho do comércio varejista neste ano.

No caso do segmento de combustíveis, cujas vendas estão em queda desde 2015, a principal explicação para o recuo neste ano está relacionada à alta dos preços.

As vendas dos setores de vestuários, calçados, móveis e eletrodomésticos, por outro lado, que registraram recuperação em 2017, quando apresentaram alta das vendas após dois anos de queda, mostram claros sinais de enfraquecimento em 2018.

Um fator importante é que, neste ano, estes setores não contam mais com o impulso da liberação de recursos do FGTS.

Supermercados e farmácias, por sua vez, que comercializam itens de primeira necessidade, vêm conseguindo manter o ritmo de crescimento das vendas.

Historicamente, este perfil das vendas reflete maior cautela dos consumidores, que adiam decisões de consumo que envolvam endividamento, e dos bancos, que, ante um aumento do risco de crédito, restringem a oferta de empréstimos.

Entretanto, o risco de crédito diminuiu bastante ao longo dos últimos dois anos. Segundo o Banco Central, a inadimplência da carteira de crédito com recursos livres das pessoas físicas encontra-se em 4,9%, o menor patamar da série histórica iniciada em março de 2011. Há, portanto, espaço para o crescimento dos empréstimos e os dados do Banco Central de fato já mostram uma retomada das concessões, especialmente em linhas de crédito para aquisição de veículos e crédito consignado.

Este crescimento dos empréstimos, por sua vez, vem se refletindo nas vendas de veículos, que vêm registrando expressivo ritmo de expansão. As vendas de materiais de construção também mostram crescimento neste ano, apesar dos sinais de enfraquecimento.

Assim, uma primeira explicação para o enfraquecimento observado no varejo restrito sem dúvida pode estar na cautela do consumidor diante das incertezas decorrentes da disputa eleitoral – em setembro o cenário ainda não estava definido, é importante lembrar.

Entretanto, há sinais de que, ante a lenta recuperação da economia e do mercado de trabalho, o fôlego para a recuperação do varejo é bastante limitado, com o endividamento para a retomada de projetos maiores – adiados pela crise –, como a troca do automóvel ou a reforma da moradia, claramente comprometendo a disponibilidade de recursos para o consumo em outros setores como vestuários, móveis e eletrodomésticos.

Ou seja, ante o endividamento gerado pela compra ou troca do automóvel ou pela reforma da casa, em um cenário de crescimento ainda tímido do emprego formal e da renda, faltariam recursos para consumo nos demais setores.

No gráfico acima, é possível observar claramente que o varejo ampliado (que inclui veículos e material de construção) vem mantendo o ritmo de crescimento, enquanto o varejo restrito mostra claros sinais de desaceleração, puxado por setores como vestuário, móveis e eletrodomésticos.

Seja como for, atualmente não se observam restrições no mercado de crédito, já que a inadimplência das pessoas físicas caiu de forma significativa nos últimos dois anos. Ou seja, o sistema financeiro apresenta atualmente perfeitas condições de aumentar a oferta de crédito de forma sustentável.

Assim, uma retomada mais vigorosa das vendas do varejo, especialmente de bens duráveis e semiduráveis, parece condicionada principalmente à recuperação da economia e, especialmente, do mercado de trabalho.