Segundo a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) divulgada nesta quinta-feira (10) pelo IBGE, as vendas do varejo apresentaram estabilidade em agosto na comparação com julho, já descontados os efeitos sazonais, tanto no critério restrito (0,1%), quanto no ampliado (0,0%), que considera também as vendas de veículos e de material de construção.

No caso do varejo restrito, a variação de 0,1% se deu após duas altas mensais consecutivas de 0,5% registradas em junho e julho. Além disto, o crescimento de julho foi revisado de 1% para 0,5% na comparação com o mês anterior.

De fato, o resultado não chega a entusiasmar, tendo ficado abaixo das expectativas do mercado e reforçando o cenário de crescimento lento do consumo. Para os economistas da Boa Vista, porém, os números não chegam a ser um “balde de água fria”, pois as perspectivas para o setor são relativamente favoráveis até o final do ano.

Isto porque a inflação segue em desaceleração e as concessões de crédito para os consumidores, especialmente nas modalidades de crédito pessoal e aquisição de veículos, vêm mantendo o ritmo de crescimento. Além disto, o setor contou com o impulso da Semana da Pátria em setembro e deve ser favorecido pelos resgates dos recursos do FGTS.

“A queda das vendas em agosto em setores como o de vestuário e o de móveis e eletrodomésticos se deu após um crescimento significativo em julho. A lenta recuperação do mercado de trabalho e o fraco crescimento da renda ainda representam obstáculos para uma expansão mais acelerada e generalizada do varejo. Por outro lado, a inflação em queda, o crédito e o resgate dos recursos do FGTS tendem a colaborar para um crescimento das vendas, ainda que moderado, nos próximos meses”, analisam os economistas da Boa Vista.

Para eles, já há indícios dos impactos dos recursos do FGTS na recuperação de crédito medida pela própria Boa Vista, que cresceu 1,4% em setembro.

“O aumento da recuperação significa mais consumidores regularizando sua situação e voltando ao mercado de crédito”, explicam.

Por outro lado, os economistas da empresa continuam apontando para os riscos de aumento da inadimplência.

“O crédito vem desempenhando um papel fundamental para a expansão das vendas do varejo, especialmente no caso do segmento de veículos. Por outro lado, como a renda cresce pouco, já se nota um aumento do endividamento e do comprometimento da renda, e um ligeiro aumento da inadimplência em algumas linhas, como cartão de crédito e empréstimo pessoal, o que pode frear a expansão das concessões e, consequentemente, das vendas”, pontuam.

“Se era cedo para otimismo após a divulgação dos dados de julho, também não há razão para excesso de pessimismo agora. Há um problema grave no mercado de trabalho, com a queda do desemprego resultante basicamente do aumento das ocupações precárias e informais. O crédito está ajudando, mas tende a esbarrar na capacidade de endividamento das famílias. O FGTS deve dar um fôlego até o final do ano, mas o efeito é limitado”, conclui a equipe econômica da Boa Vista, que projeta um crescimento de 2,3% das vendas para o Dia das Crianças.