Por Flávio Calife

O ano de 2016 trouxe resultados que podem ser interpretados como uma verdadeira catarse no ambiente empresarial. Dentre as 500 empresas analisadas nesta edição, mesmo com a diminuição da receita líquida total frente ao ano anterior foi possível observar um grande aumento do lucro acumulado em 2016, mantida a base de comparação. Isso tudo ocorrendo em condições adversas, análogas as de 2015, biênio onde imperou uma das mais severas crises econômicas de nossa história. Ou seja, as empresas que se adaptaram seus custos sobre esse novo cenário sobreviveram às turbulências do período.

No período, diversas foram as frentes dos reajustes da política econômica, entre elas câmbio, inflação e juros. Contudo, o diferencial em 2016 foram as mudanças ainda que sutis de tendência - que basicamente pararam de se deteriorar - com exceção mais notável das variáveis de mercado de trabalho, que somente recentemente começam a obter melhorias, ainda que tímidas quando comparadas à brusca mudança de 2015.

A receita líquida somada das 500 maiores empresas do Brasil atingiu R$2,96 trilhões, queda nominal de 1,2% de crescimento na comparação com 2015. Descontados os efeitos da inflação, o resultado foi ainda pior, com queda de 7,0%. Já na análise dos setores agrupados do ranking, 27 ao total, em 14 foram observadas queda de faturamento, diferentemente de 2015, quando 25 haviam caído. Dentre os destaques, as quedas mais significativas ocorreram nos setores de Construção Civil (-57,8%), Energia (-31,6%) e Petróleo e Gás (-23,4%) - efeito econômico influenciando preponderantemente pela operação Laja-Jato.

Já entre aqueles que obtiveram melhoras, os setores mais expressivos foram os da Indústria Farmacêutica (+92,0%), Têxtil, Couro e Vestuário (71,5%) e Agronegócio (37,4%). Já os prejuízos observados em 2015 foram revertidos em lucros líquidos, passando de um valor consolidado negativo de R$ 68,0 bilhões para atuais positivos R$ 92,8 bilhões.

Em geral, os indicadores de desempenho obtiveram melhorias. Um do mais importantes, a margem Ebitda, indicador que aponta a eficiência das empresas em gerar caixa sem a ajuda de recursos financeiros, melhorou após recuo consecutivo da média registrado entre 2014 e 2015, registrando média de 18,0% neste último ano. A margem líquida cresceu 3,1% ante queda de 2,5% observados em 2015, enquanto o Retorno sobre os Ativos e sobre o Patrimônio aumentaram 2,0% e 5,7% - os quais haviam se tornado negativos no ano anterior em 1,6% e 4,7%, respectivamente, graças aos prejuízos acumulados.

O cenário para 2017 já se apresenta bem mais proeminente do que 2016, com variáveis da atividade econômica, crédito e setor externo já em níveis positivos, transformando o que antes eram apenas expectativas em realidade. Ainda há muitos obstáculos pelo caminho, mas uma coisa é certa: o pior já passou.

(*) Artigo originalmente publicado pela revista Época Negócios - Anuário 360º em agosto de 2017