2020 começa melhor do 2019, e crescem as expectativas por um crescimento mais robusto para as vendas no varejo

O ano de 2019 começou com expectativas muito elevadas. Novo governo, novas ideias, grandes mudanças esperadas para o ambiente de negócios, uma equipe econômica com forte compromisso em estabelecer a redução da participação do estado na economia e a incentivar o aumento da parcela da iniciativa privada.

O boletim Focus em janeiro de 2019 apontava uma expectativa de crescimento de 2,5% para o PIB e o varejo restrito (sem incluir automóveis e material de construção) esperava crescer acima dos 3%. No entanto, à medida em que os meses se passavam, e a realidade se apresentava, as expectativas foram se arrefecendo. As votações sobre a reforma da previdência tomaram um tempo significativo da agenda do governo. No final das contas, a economia deve crescer pouco mais de 1% e o varejo restrito deve ficar próximo dos 2%.

Mas nos últimos meses de 2019 as expectativas quanto ao futuro começaram a melhorar, e o ano de 2020 inicia-se novamente com boas expectativas de crescimento para a economia. O primeiro boletim Focus de 2020 traz expectativas de crescimento para o PIB de 2,3%. Para o comércio varejista as expectativas voltaram a ser superiores a 3% de crescimento. Mas será que nesse ano as expectativas se tornarão realidade? O que garante que as frustações do ano passado não se repetirão em 2020?

Em se tratando de comércio varejista precisamos estar de olho em algumas variáveis para tentar antecipar as tendências do consumo e do varejo para esse ano. Entre as variáveis mais relevantes estão aquelas referentes ao mercado de trabalho (emprego e renda), os indicadores de confiança do consumidor, o comportamento do mercado de crédito (concessões, juros e inadimplência) e as variações de preços.

O desemprego, grande calcanhar de Aquiles da economia recente, fechou em 11,6% em dezembro de 2018 e subiu até 12,7% em março de 2019. De lá pra cá engatou uma clara tendência de baixa e fechou em novembro com 11,2% de taxa de desocupação, com expectativa de mais quedas ao longo de 2020.

Os indicadores de confiança do consumidor continuam em leve tendência de alta desde 2016, mas na maior parte desse período foram puxados principalmente pelas expetativas futuras, infladas pela esperança nas mudanças de governo que aconteceram desde então. A boa notícia é que nas medições mais recentes temos um aumento na confiança do consumidor muito influenciada também por uma melhora na situação atual, o que nos permite aguardar uma recuperação mais sustentada no consumo.

Acompanhando a melhora da confiança, as concessões de crédito estão crescendo a um ritmo de 10% ao ano desde o final de 2018, e não perderam o fôlego em 2019. Todas as projeções apontam que esse ritmo de crescimento deve continuar acelerado por um bom tempo ainda. E os efeitos do Cadastro Positivo, que entrou em vigor em 2019, devem começar a ser sentidos já neste ano, impulsionando ainda mais as concessões com melhores avaliações de risco.

Contribuem ainda para este cenário juros básicos mais baixos e preços estáveis. A redução dos juros ao consumidor final, no entanto, ainda é um grande desafio. Apesar da queda na taxa de captação dos bancos, os spreads subiram, praticamente anulando os efeitos das quedas na taxa selic.

A inadimplência permanece em níveis relativamente baixos (atingiu o menor nível da série histórica do Banco Central, 4,7% para os recursos livres pessoas físicas) mas com tendência de alta, já que com aumento do crédito, os níveis de endividamento também subiram. Estas talvez as variáveis mais críticas a serem acompanhadas.

A melhora nessas variáveis já tem se refletido no comércio varejista. O varejo já vem se comportando de forma bastante positiva desde o segundo semestre de 2019. De forma consecutiva observamos seis aumentos mensais nas vendas, sete aumentos interanuais e cinco aumentos trimestrais, tomando como referência os dados da última pesquisa mensal do comércio que traz os resultados até novembro de 2019.

Destaque para a retomada dos setores de móveis e eletrodomésticos, que apresentavam crescimento em queda desde janeiro de 2018, e tornando-se negativo entre novembro de 2018 a outubro de 2019, na variação acumulada de 12 meses. Mas houve uma mudança de tendência a partir de abril, fechando 2019 com um crescimento positivo. Movimento parecido ocorreu com o setor de tecidos, vestuário e calçados.

Esses fatores nos levam a acreditar que as possibilidades das expectativas se tornarem realidade em 2020 são superiores àquelas que tínhamos em 2019.

É sempre bom lembrar que economistas erram sistematicamente suas previsões sobre os resultados para os diversos setores da atividade econômica, para cima ou para baixo é verdade, e provavelmente 2020 não deve fugir a essa regra. Mas pelos resultados recentes e pelo comportamento observado das variáveis, a possibilidade de um erro para baixo, (ou seja, a economia crescer mais do que o esperado hoje), está cada vez maior.