Por Flávio Calife, da área de Indicadores e Estudos Econômicos da Boa Vista SCPC

Depois de anos de credibilidade em baixa devido ao descontrole das contas públicas, o governo tenta recuperar o tempo adiantando cortes de despesas para sinalizar o seu compromisso com a austeridade fiscal, tentando sinalizar para as agências de classificação de risco que a mudança de rumo está em curso. A nova equipe econômica declarou como meta para os próximos dois anos, superávits primários de 1,2% e 2% do PIB, respectivamente. Isso significa que em 2015, o governo precisa poupar cerca de R$ 66 bilhões de reais. Aí começa o problema. Até agora não está claro como essa meta será atingida.

Parte do ajuste virá da redução de gastos, parte deles já anunciados no final de 2014, como o maior rigor na concessão de previdenciários e trabalhistas, mas dificilmente sairemos dessa confusão sem promover o aumento das receitas. Em um ano de baixa expectativa de crescimento econômico, significa que o aumento da carga tributária deve ser inevitável. A Cide (contribuição de intervenção no domínio econômico), conhecida como o imposto do combustível, deve voltar já na próxima semana. A unificação e simplificação do PIS e da Cofins, impostos cobrados sobre o faturamento das empresas, também está nos planos do governo, que deve aproveitar a discussão sobre os ganhos da simplificação para aumentar as alíquotas. Podemos ainda esperar a volta de um tributo sobre as movimentações financeiras, uma espécie de CPMF revisitada, dessa vez sem o apelo da saúde.

Provavelmente tudo isso ainda não deve ser suficiente para se chegar ao número esperado. Nesses momentos a saída mais comum e menos questionada é o corte nos investimentos. Aumento de impostos e corte em investimentos costumam ser uma combinação perfeita para a diminuição do crescimento e o aumento do desemprego. O ajuste sem traumas está cada vez mais distante.