O consumidor já tinha percebido a crise da porta de casa para fora. Agora o problema está da porta de casa para dentro. Que o cenário macroeconômico não está bem e que sua recuperação não é esperada no curto prazo, não é novidade. A surpresa é que há um fator adicional para se preocupar: o orçamento doméstico começou a mostrar sinais de deterioração.

A pesquisa trimestral do Perfil do Inadimplente, divulgada hoje pela Boa Vista SCPC, apresentou mudanças relevantes nas condições de pagamento e endividamento dos consumidores que possuem contas em atraso.

Segundo os resultados da pesquisa referente ao 1º trimestre de 2015, o percentual de inadimplentes com condições de pagar totalmente suas dívidas recuou consideravelmente ante o trimestre anterior (de 84% para 76%), em contrapartida, aumentou a parcela dos respondentes que não pagará suas contas à vista (de 58% para 65%). Em relação à percepção dos entrevistados sobre o nível de endividamento em que se encontram, o percentual de inadimplentes pouco endividados diminuiu 12 p.p., ficando em 30%. E o comprometimento da renda seguiu a mesma tendência, a parcela com até 25% da renda comprometida recuou, de 47% para 32%.

Se a desaceleração do crescimento do saldo do crédito deve-se também a maior cautela dos consumidores, o que aconteceu durante o 1º trimestre desse ano para mudar as finanças pessoais? O aumento persistente da inflação, o encarecimento dos empréstimos, a elevação dos impostos e o desaquecimento do mercado de trabalho reduziram o poder de compra não só do inadimplente, mas de todos os consumidores. A desconfiança (ou falta de confiança) já está se refletindo em piora concreta das finanças pessoais.