Por Paulo Rabello de Castro, da RC Consultores

Neste fim de semana, o governo de Chipre concordou em decretar um confisco de 9,9% sobre todos os depósitos bancários nas instituições cipriotas em valor superior a 100.000 euros. Os demais também pagarão, embora com uma alíquota menor, de 6,75%. O caráter de confisco foi "aliviado" pela entrega aos "contribuintes" de ações dos bancos cipriotas onde seus recursos estão depositados. Com isso, as autoridades locais, do FMI e do BCE que participaram da decisão encontram razão para supor que não haverá saques vultosos pelos prejudicados. Chipre é uma pequena nação participante da Comunidade Europeia, altamente endividada, que não tinha mais como rolar a dívida pública. A Troika aprovou então um socorro de €10 bilhões aos bancos e ao país, que se soma ao confisco no valor estimado de €7 bilhões.

A notícia é familiar aos brasileiros com mais de 30 anos. Lembra o confisco da poupança, com bloqueio de saques no anúncio do Plano Collor. Na ocasião, advertimos logo sobre o alto risco de insucesso da medida. De fato, era uma política natimorta. Mas o confisco em Chipre assume contornos mais graves, embora em uma economia muito pequena. Pode minar a confiança, já meio abalada, dos depositantes em euros em outros países do bloco. O que poderá supor um depositante espanhol, italiano ou português? As próximas semanas o dirão. Em contraste, as bolsas americanas seguem embaladas por uma perspectiva de que 2013 é o primeiro ano da recuperação efetiva daquele país e que isso puxará o resto do mundo. São duas visões bem opostas caminhando em paralelo.

Ed.145