Por Paulo Rabello de Castro, da RC Consultores

O foco exclusivo do governo em manobras fiscais para melhorar seus indicadores macro (inflação e PIB) começa a ser contabilizado nas contas dos próprios consumidores. A redução da tarifa de energia elétrica, anunciada em janeiro, elevou o consumo em um momento de escassez hidrológica e, por isso, empurrou ao limite o uso de usinas termoelétricas, cuja conta salgada voltará, em 2014, nas contas dos mesmos consumidores (R$8,6 bilhões). Outros R$8,5 bilhões serão financiados por emissões de dívida do Tesouro. Os consumidores pagarão a conta via impostos. No final, o ganho na conta de luz vira uma conta a mais, que vem engordada com as distorções causadas por uma generosidade fora de lugar do governo.

O economista John Williamson (“pai intelectual” do Consenso de Washington), em passagem pela FGV, destacou “os problemas de gestão econômica”, como centrais na suposta redução da capacidade de crescimento do país. Esses erros de gestão, que ele aponta como intervenções do governo “a torto e a direito”, comprometem as decisões de investimentos privados. O chamado PIB potencial, que chegou a ser estimado em até 4% de expansão ao ano, poderia estar reduzido a menos de 3%. A RC Consultores estimou este potencial, atualmente, em apenas 2,3%. Williamson só não percebeu ainda que os erros de gestão fazem o país pagar a conta duas vezes: primeiro, o consumidor, agraciado com uma bondade do governo, paga a conta como contribuinte quando o imposto aumenta para todos. Segundo, e isso é pouco percebido por analistas nacionais e estrangeiros, a carga tributária brasileira se tornou, ela mesma, uma devoradora de produtividade, matando uma parte importante da capacidade de crescer. Todos pagarão uma segunda vez, quando o país investir apenas 18% do PIB. As estatais produtivas, como Petrobras e Eletrobras, cujas contas são manobradas, são as primeiras a encarar perdas em capacidade de investir. Tomam empréstimos no BNDES, cuja verba não deveria ser para estatais capazes de ir ao mercado. Os recursos do BNDES para outras empresas ficam menores e os investimentos minguam também no setor privado. O círculo vicioso começa com bondades públicas e termina como maldades “para todos”.

Ed.250