Por José Valter Martins de Almeida, da RC Consultores

Ontem os mercados internacionais foram contaminados pela crise que atinge o Grupo Espírito Santo (GES), sobretudo o Banco Espírito Santo (BES), a maior instituição financeira em Portugal. As principais bolsas de ações despencaram na Europa e também tiveram perdas consideráveis nos EUA. A crise se agravou ontem depois de investidores terem sido informados que a holding ESI admitiu atrasos no pagamento de cupons de dívida de curto prazo. Apesar das garantias do Banco de Portugal de que o BES está protegido da ESI, os credores continuam a recear perdas no BES, considerando a falta de transparência na estrutura de todo o grupo.

Embora hoje os mercados estejam mais tranquilos, o episódio mostrou a vulnerabilidade do sistema financeiro. O receio com impactos da crise sobre a zona do euro disparou movimento global de aversão ao risco, com investidores em busca da segurança do dólar e dos títulos públicos dos EUA. Os papéis soberanos, sobretudo os da periferia da Europa, sofreram desvalorização com as taxas de juros subindo. Esta situação coloca em dúvida se os esforços europeus para quebrar a ligação entre os soberanos e o sistema bancário tiveram êxito. Também causa surpresa como as autoridades portuguesas, e mesmo a Troika, não identificaram estes problemas com antecedência. A crise no GES reanima as questões sobre a saúde latente dos bancos da periferia da zona do euro e sobre os mecanismos que estão sendo desenvolvidos para lidar com eles. A reação do mercado a esse evento, o perigo de deflação e a vulnerabilidade da retomada da economia mostram que a zona do euro ainda não voltou à normalidade.