Por Paulo Rabello de Castro, da RC Consultores

A presença de dois déficits simultâneos no País - interno (fiscal) e externo (conta corrente) – acende o alerta dos mercados, provocando aumento acentuado da incerteza, causadora de elevação de spreads de risco e aumentos espontâneos do custo financeiro das empresas e famílias. O fato de serem “gêmeos” é o que causa mais preocupação: é sinal de forte demanda por financiamentos à frente, tanto em moedas estrangeiras como em reais. No setor externo, o déficit de quase 4% do PIB denota pressão por recursos externos de mais de US$ 80 bilhões por ano. No lado interno, o superávit primário do setor governo virou um déficit em setembro, atingindo 6% do PIB, portanto requerendo colocação de novas obrigações do Tesouro e do Banco Central. A dívida bruta interna cresceu para 62% do PIB, depois de haver recuado a 54% em 2011, possibilitando juros básicos a 7%. Voltamos, assim, à estaca zero.

O gasto impetuoso de todas as esferas de governo no ano eleitoral está na causa do acentuado desequilíbrio. Os déficits gêmeos são produzidos por explosões de gastos em todas as rubricas orçamentárias, em especial as de custeio. No Tesouro Nacional, a despesa total acumulada até setembro, 2014 contra 2013, apresenta um forte salto de 16,3% que não se consegue cobrir com o avanço de 5,9% da receita fiscal do ano, enquanto o PIB apresenta, em igual período, um avanço de apenas 6,4% nominais, mal a variação da inflação decorrida. Várias importantes novidades estão contidas nesses números. Primeiro: a expansão do gasto em setembro traduz possível represamento de dados ao longo do ano. Segundo: os números péssimos “explicam” a recente ação coercitiva do Copom, ao aumentar juros sem uma justificativa pelo lado da trajetória inflacionária. De fato, o BC se sentiu obrigado a frear rigidamente o setor privado e produtivo para acomodar gastos públicos excessivos. Não se pode chamar essa política de “ajuste”, já que não houve qualquer correção do segmento deficitário.