Por Paulo Rabello de Castro, da RC Consultores

Lawrence Summers, professor de Harvard e ex-assessor chefe de Barack Obama, no início do primeiro mandato, acaba de desistir de concorrer como substituto de Ben Bernanke no Federal Reserve, a partir de janeiro. Na disputa ficou Janet Yellen, a vice atual, que representaria melhor os interesses do Partido Democrata. Por trás dessa disputa, estão mais questões de tática do que de direção de política. Entretanto, os mercados comemoraram hoje na Ásia o fato de Summers haver desistido, em função da crença espalhada no noticiário de que sua atuação seria mais agressiva na retirada do estímulo à manutenção de juros próximos a zero (em termos reais). Ou seja, comemora-se uma política menos apertada do FED na retirada de estímulos.

O impacto da comemoração pelo afastamento de Summers da disputa será efêmero. As bolsas americana e europeia podem ficar mais positivas por uns dias e as commodities terão seus preços sustentados por um dólar mais fraco. Mas a diferença está mais no estilo do que na substância. Tanto Yellen quanto Summers não teriam escapatória senão perseguir a mesma política de retirada de estímulos. O receio dos políticos democratas em relação à escolha de Summers resulta de sua aparente aproximação com os banqueiros de Wall Street. O setor político americano se ressente do fato de os bancos terem “levado a melhor” no processo de ajuste. Essa é outra tese que os dados não sustentam. Embora tenha havido importantes resgates dos bancos de grande porte, milhares de instituições bancárias de médio porte nos EUA fecharam as portas desde a quebra do Lehman em setembro de 2008. Passada a especulação em torno do nome do próximo inquilino na cadeira de Bernanke no FED, os mercados perceberão a inevitabilidade da retirada dos estímulos. Neste momento, o efeito dos juros mais altos voltará a ser sentidos, acentuando a tendência à desaceleração da economia mundial.

Ed.271