Paulo Rabello de Castro, da RC Consultores

Para perplexidade dos analistas que apostavam na deterioração da conta corrente brasileira para justificar o recuo do real frente ao dólar neste ano, a recente revalorização da nossa moeda mostra a relevância dos movimentos financeiros de curto prazo sobre o que também acontece na balança de bens e serviços. O déficit em conta corrente caminha para 4% do PIB, tendo a queda do mercado argentino como principal vilão. Mas a entrada de recursos em carteira até fevereiro, em renda fixa, foi de quase US$ 6 bilhões, contra só US$ 300 milhões no mesmo bimestre de 2013. O real vem se fortalecendo pari-passu a outras moedas de países emergentes, notadamente as duas rúpias, a indiana e a indonésia. No mês de março, devem ter entrado recursos relevantes na renda variável (bolsa).

No início do ano, a cotação do real chegou acima de R$ 2,40. Não foram poucos os analistas a prognosticar um dólar cotado a R$ 2,60, ou mais, ao final de 2014. Isso ainda é possível. Mas vem se tornando menos provável. O principal elemento de acomodação tem sido a atração da nossa Selic a 11% ao ano. Quando cotejada ao rendimento dos Fed Funds, que a nova presidente do FED promete manter muito baixo ao longo deste ano e, possivelmente, do próximo, os aplicadores de fora não tiveram dúvidas de retornar ao nosso mercado. Tal movimento tem que ser acompanhado no cotejo com as moedas de outros emergentes que, na atualidade, se movem em conjunto, ao sabor do humor – certezas ou temores – dos capitais voláteis do mundo. O Brasil, apesar das críticas e rebaixamentos, não é visto como um risco grave nem é considerado o mais “frágil” dos emergentes. Sobretudo, pesa o fato de que os preços das commodities pararam de recuar e algumas cotações (café e soja, entre outras) recuperaram valor expressivo. São movimentos de curto prazo. Tudo ainda pode mudar neste ambiente de extrema volatilidade mundial e de nenhuma certeza sobre a recuperação das economias avançadas.

Ed.392