Por Paulo Rabello de Castro, da RC Consultores

Eleições majoritárias sempre contêm a injustiça de excluir do pódio o lado perdedor. As eleições presidenciais de 2014 tiveram a característica adicional de excluir os perdedores por muito pequena margem. O resultado de ontem revelou também – isso sem surpresa nenhuma – um país nitidamente “cortado ao meio” territorialmente, já que, inclusive no Rio Grande do Sul, fortemente petista e origem política de Dilma, os votos para Aécio acompanharam a vitória de Sartori, oposicionista do PMDB não-alinhado. O “Brasil que produz” e que é responsável por recolher boa parte dos tributos votou pesadamente na alternância de poder. A oposição cresceu também nos estados, com destaque para São Paulo. E no Congresso será mais difícil para a presidente Dilma formar a bancada necessária para passar os projetos mais polêmicos, especialmente a prometida “reforma política”, seguida de referendo popular.

O recado das urnas é para ganhadores e perdedores. O lado ganhador parece ter ouvido a mensagem: a presidente reeleita fez um discurso de aproximação imediata com o “outro lado”, não se importando em agradar muito a plateia petista que não parava de gritar palavras de ordem. A presidente tem bons motivos para se preocupar. Com os ajustes imperativos e urgentes na economia, acabará desagradando os que votaram nela sonhando poder esticar um pouco mais as vantagens do “governo grátis” propiciado pelo hiperciclo das commodities. Tudo indica que Dilma caminhará para um governo de centro no campo econômico, com isso significando a tentativa de adoção de várias “pautas” ditadas pela Oposição, inclusive uma gradual simplificação fiscal e maiores controles de gestão pública, mais do que urgentes aliás. Mas a Oposição também saiu com sua lição de casa para fazer. A primeira está contida no recado do saudoso Eduardo Campos, perda maior nesta disputa: “Não podemos desistir do Brasil”. Em segundo lugar, o recado de Tancredo: “Não devemos nos dispersar”. A construção de uma nação mais responsável e próspera hoje depende mais de como se comportará a Oposição nas cobranças que fará do que com os anúncios do governo que fica.