Por RC Consultores*

O ano que se encerra levará junto a expectativa de um ajustamento da economia brasileira. A sinalização é que esse ajuste possa ser feito em 2015. Essa é a boa notícia nesta virada de ano. No entanto, o desafio fiscal será muito maior. O gasto do governo este ano cresceu mais uma vez em velocidade maior que a expansão do PIB. Esse aumento da despesa não ampliou os recursos para investimentos. Com um cenário econômico de inflação no teto da meta, baixo crescimento e déficit externo crescente, o ano que vem promete ser complexo. O governo sinaliza, com a indicação dos nomes da equipe econômica, que pretende fazer o ajuste necessário. No entanto, a equipe econômica ainda não revelou como fazer esse ajuste. O risco é fazê-lo, mais uma vez, com o aumento dos impostos, que em 2014 devem atingir 37% do PIB. A tributação complexa e excessiva é um desafio a ser vencido. O nível das expectativas dos empresários está muito dependente de sinalizações práticas do governo no segundo mandato de Dilma. O cenário da indústria é desolador. A inflação vai começar o ano acima do teto da meta e assim permanecerá ao longo dos primeiros meses do ano. O BC vai continuar subindo a taxa de juros não só para combater a inflação, mas, e principalmente, para defender o real. O risco do aumento da inadimplência para pessoas físicas subir é consequência do menor crescimento da renda e da provável alta da taxa de desemprego. O real deverá continuar se desvalorizando na esteira do fortalecimento do dólar. Essa desvalorização pode ajudar a equilibrar o déficit das contas externas, que este ano deve fechar em 4,0% do PIB. O desafio de colocar a economia brasileira de volta na rota do crescimento é grande.

No cenário externo, as várias medidas que o BCE colocou em prática não surtiram o efeito desejado. A zona do euro continua mergulhada num cenário de estagnação do crescimento, com pressões deflacionárias. É cada vez mais provável que Mario Draghi utilize o “quantitative easing” para comprar títulos da dívida pública dos países da zona do euro, desvalorizando ainda mais o euro. Do outro lado do Atlântico, o Fed deverá começar a subir a taxa de juros que hoje se encontra entre 0% e 0,25%, a taxa mais baixa da história americana. A contrapor essa política restritiva, o Banco do Japão e o BCE caminharão no sentido oposto, expandido a liquidez. Como resultado final, a força do dólar continuará recorrente em 2015. A China, que alimentou o crescimento global nos últimos anos, é o principal risco para o próximo ano. Com problemas no sistema financeiro e no setor imobiliário, as altas taxas do crescimento chinês começam a ficar comprometidas. O cenário de um crescimento muito menor do que os dos últimos anos pode afetar os mercados de commodities e colocar as moedas dos países emergentes, Brasil incluído, sob pressão.

As atuais condições econômicas e monetárias criam um novo desafio. Apesar de se elencar os riscos, por vezes os maiores perigos para os mercados vêm de onde ninguém espera. Se a crise da Criméia, o ebola e o anúncio americano de reatar relações com Cuba surpreenderam o mundo em 2014, há possibilidade de novos eventos desconhecidos ocorrerem em 2015.

*Paulo Rabello de Castro

José Valter Martins de Almeida

Marcel Caparoz

Thiago Biscuola

Everton Carneiro

Vitor Passos