Por José Valter Martins de Almeida, da RC Consultores

A Rússia proibiu, no início do mês, a importação de produtos alimentares da Europa e EUA, durante um ano, em retaliação às sanções devido à crise na Ucrânia. Essa decisão afeta diretamente os exportadores europeus para a Rússia. A Europa vendeu em 2013 para a Rússia quase dois bilhões de euros em frutas e legumes. Estima-se que a perda deste mercado representa cerca de 6% da produção na UE e 0,05% do PIB da região.

Embora a Rússia possua uma das maiores áreas de terra arável per capita do mundo, 40% do abastecimento de alimentos do país depende de importações. O governo tenta aproveitar esse evento e aposta na autossuficiência alimentar da Rússia. Mas parece uma meta difícil de alcançar. Ao menos, no médio prazo. Os próprios agricultores russos reconhecem a dificuldade e afirmam que seriam necessários anos de trabalho árduo, além de investimentos enormes e abrangentes para mudar o quadro atual. Desde o colapso da URSS, em 1991, a área total cultivada caiu quase 20%, de mais de 90 milhões de hectares para 73 milhões. A retaliação da Rússia deve custar anualmente à Europa US$ 6,7 bilhões devido à produção perdida. O Brasil pode se beneficiar desta medida. Nossas exportações para a Rússia atingem apenas 1,5% do total exportado. Abre-se uma janela de oportunidade para o agronegócio. Não deveríamos perdê-la.