Por Paulo Rabello de Castro, da RC Consultores

Com novas e antecipadas eleições convocadas para o próximo dia 17, a Grécia discute politicamente o rumo que dará ao seu regime de emagrecimento forçado imposto pela “troika”. Desde a última repactuação de sua enorme dívida – estimada hoje em mais de 150% do PIB – a Grécia passou por momento de contida euforia nos mercados de títulos soberanos no início deste ano, quando banqueiros “otimistas” chegaram a anunciar o fim da crise de endividamento dos países periféricos do bloco europeu. Os papéis repactuados da dívida grega chegaram a ser negociados com yields de apenas 5,5%, um patamar de risco inferior aos spreads cobrados de empresas de primeira linha de países emergentes. Portugal entrou na onda de otimismo, assim como a Irlanda, a Espanha e a Itália. Não mais.

A realidade aponta sérias dificuldades para países muito endividados honrarem pagamentos de encargos financeiros sem prolongar desmesuradamente os sacrifícios da dieta rigorosa de gastos públicos nos países no chamado “circuito do azeite de oliva”. A antecipação das eleições gregas pode trazer para o governo a atual oposição de esquerda, que propugna uma revisão radical dos termos de pagamento. Má notícia para os bancos credores e para os aplicadores em papéis europeus em geral. O próprio Banco Central Europeu poderá ser obrigado a montar novas e dispendiosas operações de resgate em 2015, azedando o cenário de risco global e vindo afetar praias sul-americanas, na medida em que outros países com problemas fiscais sejam empacotados na mesma aversão ao risco de emergentes e subemergentes em geral. O estoque de dívidas de países como a Grécia são simplesmente grandes demais para serem servidos com juros razoáveis. Ken Rogoff, no seu estudo de dívidas de países, aponta um limite tolerável em 90% do PIB. Isso aprovaria o Brasil com facilidade, mas descartaria final feliz para países como Grécia e Portugal, que nunca chegaram a fazer qualquer superávit primário significativo. O Brasil, com enormes superávits primários há tantos anos, realizou uma proeza raras vezes repetida no mundo financeiro. O contribuinte nacional tem pago uma conta amarga, enquanto o governo continua esbanjando e a política silencia a respeito.