Por Yan Cattani/Flávio Calife

O mercado de crédito enfrentou forte turbulência em 2015. Os dados ainda não se encontram consolidados, mas já se sabe que foi o pior ano enfrentado praticamente em todas as suas frentes – especialmente quando falamos sobre os resultados das linhas de empréstimo voltadas às empresas.

Para essa categoria os dados do Banco Central (BC) divulgados até novembro mostram que o saldo de crédito já caiu 3,5% em termos reais, pior resultado registrado na série histórica, iniciada em março de 2007. Algumas categorias essenciais, como capital de giro (recursos livres), cuja representatividade frente ao total de crédito disponibilizado na economia é atualmente de 11,9%, atingiu queda de 12,4%. Algo totalmente inusitado.

Mas o cenário de inadimplência das empresas é ainda mais preocupante. A série do BC apontou desde março do ano passado recordes sucessivos de inadimplência para a categoria de créditos livres. E para os próximos meses, esta trajetória deverá, inclusive, se intensificar.

Dados da Boa Vista SCPC divulgados hoje mostram que a inadimplência das empresas subiu 8,9% em 2015. O indicador, que mede o fluxo dos principais mecanismos de apontamento de inadimplência empresarial (cheques devolvidos, títulos protestados e registros realizados na base do SCPC), mostrou no último trimestre do ano um resultado 1,8% maior do que o registrado no terceiro trimestre, expurgados efeitos sazonais. Com exceção do primeiro trimestre de 2015, a inadimplência das empresas permaneceu ao longo do ano em patamares superiores a 8% (nos valores acumulados em 4 trimestres), número consideravelmente elevado quando comparado aos últimos três anos.

A piora do indicador é ocasionada em essência por um cenário de forte incerteza na economia. A retração da atividade econômica reduz a geração de receitas e a inflação acelerada aumento os custos, causando efeitos significativos sobre o caixa das empresas. O capital de giro, solução natural para o problema está cada vez mais escasso e mais caro. Com poucas chances de mudanças positivas no cenário econômico no curto prazo, 2016 se inicia com a manutenção de tendência de alta na inadimplência das empresas.