Por Paulo Rabello de Castro, da RC Consultores

A nova personagem de maior destaque na cena financeira mundial é Janet Yellen que, há duas semanas, comanda o FED, em substituição a Ben Bernanke. No seu primeiro depoimento ao Congresso americano, Yellen reforçou a linha do discurso gradualista adotada pelo antecessor quanto à redução do programa de compras de títulos que inunda o mundo de liquidez. Dos US$ 85 bi/mês de compras iniciais, o programa está em US$ 65 bi. Em março, pode cair a US$ 55 bi, o que ainda é uma inundação de recursos de estímulo ao mercado americano, cujo nível de criação de novos postos de trabalho ainda é desapontador frente ao tamanho do empurrão monetário que o estimula. Os mercados gostaram do anúncio de Yellen, como sinal de que podem continuar a sustentar suas apostas especulativas.

No mesmo dia, o FED circulou relatório em que os emergentes são avaliados quanto às desvalorizações cambiais que vêm sofrendo. Um “score” de vulnerabilidade feito pelo FED procura “explicar” porque alguns países, inclusive o Brasil, têm desvalorizado mais do que outros. O trabalho do FED contém equívocos evidentes. A intensidade da desvalorização cambial de um país num período de tempo não pode ser associada como sinal de sua vulnerabilidade. Pode decorrer, simplesmente, da intensidade da valorização do câmbio que precedeu à queda. Este é o caso do Brasil, cujo excesso de apreciação do real era mais do que evidente. Outro aspecto é a atitude de cada banco central local. Se este decidir não gastar reservas para defender sua moeda, ela se tornará mais competitiva e o BC queimará menos reservas. Caso do Brasil. Nada disso indica maior “vulnerabilidade”. Porém, ao usar este termo pejorativo, o FED tira o foco das dificuldades de ajustamento na sua própria economia, e muito mais na capenga Europa e no declinante Japão, e projeta dúvidas sobre os emergentes, entre eles o Brasil. Por esta razão e não outra, o ano de 2014 ainda promete mais incertezas e menos segurança de retomada.

Ed.363