Por Paulo Rabello de Castro, da RC Consultores

A recente notícia positiva sobre o menor índice de desemprego num mês de agosto (de apenas 5%) não é suficiente para reverter a percepção de forte ajuste no mercado de trabalho e no nível de poder de compra sentido pela população brasileira. O Pessoal Ocupado, nas seis regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE, mostra recuo de 0,2% em números absolutos, na variação em 12 meses, contrastando vivamente com altas sucessivas, em anos anteriores, de até 3% (em ago.2011). A massa salarial nas seis principais regiões urbanas está estacionada em torno de R$ 47 bilhões/mês, desde o ano passado (alta de apenas 2% em 12 meses). Como o comprometimento de renda tem se elevado em função da alta contínua nos custos financeiros, a renda disponível para consumo novo ou investimentos em casa própria acaba espremida. O aperto é reforçado pela recente alta do câmbio.

O próprio índice de desemprego oficial tem uma conotação perigosa, visto que parcela importante da população desiste de buscar emprego, saindo da estatística de desemprego, em função de mecanismos assistenciais, como Bolsa Família. Mas é na faixa das classes médias, C e B, que o aperto vem vindo com mais força. Vários fatores se conjugam. O primeiro é a estagnação de muitos ramos industriais, com ênfase no automobilístico, com queda de dois dígitos e que espalha preocupação na massa empregada. O segundo é a mudança do rumo dos preços dos grãos, em franco recuo, afetando o interior. O terceiro fator é a expectativa dos próximos ajustes nos preços controlados, após as eleições. O quarto elemento é o crédito, mais seletivo, que implica em índices mais altos de recusa de financiamento.