Por Yan Cattani, da área de Indicadores e Estudos Econômicos da Boa Vista SCPC

A divulgação de hoje da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE evidenciou um mercado de trabalho bastante aquecido em 2014: o nível de desocupação médio no ano foi de 4,8%, o menor desde o início da série (março de 2002), enquanto os rendimentos cresceram 0,6 p.p. acima da média histórica (2,1%). Como explicar um desempenho tão bom em um cenário econômico adverso?

De acordo com o especialista em políticas públicas, Naércio Menezes, a atual dinâmica de baixo desemprego e elevados ganhos reais pode ser explicada por fatores de oferta e demanda do mercado de trabalho. Pelo lado da oferta, desde 1990 houve considerável declínio da fecundidade em famílias mais pobres. Juntamente com o aumento da escolaridade desta parcela da população, os fatores contribuíram para elevar a renda familiar. Ademais, o salário mínimo mais do que dobrou no período, além de uma maior incorporação de renda real decorrente dos programas sociais.

Pelo lado da demanda, o aumento dos rendimentos reais e a crescente formalização dos postos de trabalho são fatores que acabaram por acomodar melhor a população desempregada na última década. Isto ocorre porque a maior renda e os benefícios de trabalho formal (seguro-desemprego, por exemplo) permitem ao trabalhador passar por períodos mais prolongados entre um emprego e outro (tempo muitas vezes que excede a contabilização das pesquisas de emprego, geralmente de um mês, diminuindo o desemprego contabilizado no cálculo). Além disso, a elevação dos ganhos possibilita que os jovens dessas famílias dediquem-se mais tempo aos estudos, diminuindo, portanto, a entrada de um importante número de pessoas na chamada população economicamente ativa.

Para este ano, a deterioração da economia e o chamado ajuste fiscal são fatores que deverão intensificar o aumento do desemprego. A piora da atividade diminui a oferta de empregos, enquanto as barreiras sobre diversos benefícios trabalhistas contribuem para um aumento do desemprego e queda dos rendimentos reais. Adicionalmente, a inflação, que deverá rondar próxima de 7% no ano, também colaborará para o aperto real dos ganhos. 2015 apenas começou, mas já dá claros sinais de que será um ano em que o trabalhador dificilmente terá muitos motivos para comemorar.