Por Paulo Rabello de Castro, da RC Consultores

Pela primeira vez desde o desatar da crise de 2008, o governo americano apresenta um orçamento de “defesa”- ou seja, de gastos militares – com previsão de amplos cortes, em especial no pessoal militar, em despesas de manutenção, novas armas e equipamentos bélicos. O secretário de Defesa mostrou uma proposta de “apenas” US$ 496 bilhões para o próximo ano fiscal. O Congresso americano ainda terá que debater a proposta com o Orçamento final de Obama na próxima semana. O novo orçamento militar propõe corte de pessoal em 13%. Ainda assim, é um orçamento quase cinco vezes maior que o da China, que vem em 2º no mundo em defesa. A reação aos cortes já começou. Vários estados americanos têm larga dependência dos gastos militares em bases espalhadas pelo território dos EUA. Além disso, muitos parlamentares representam diretamente interesses variados de contratos ligados às guerras externas e ao desenvolvimento de armas novas.

A guinada de Obama nessa área militar é corajosa e revela um compromisso com o futuro da estabilidade fiscal, mas invocará muitas novas fricções com o Congresso. Obama está usando o trunfo do seu segundo mandato para tomar essa decisão importante, mas impopular, junto aos políticos, tanto de sua base democrata como nos republicanos da oposição. Revela também uma guinada fiscal na direção de gastar menos e tentar reequilibrar o orçamento em alguns anos à frente. Para tanto, será preciso mostrar que os EUA não ficarão desprotegidos militarmente. Longe disso. O novo orçamento dá ênfase a elementos novos como a guerra cibernética (com equipes de anti-hackers e outras para prevenir ou contrapor ataques cibernéticos) e grupos táticos de alto treinamento, como os Seals, que pegaram Osama Bin Laden. Os EUA se preparam para um mundo onde as guerras não se travam abertamente nem em grande escala, mas exigem grande e rápido poder de resposta a ataques de surpresa.

Ed.372