Por Paulo Rabello de Castro, da RC Consultores

O último relatório Focus, com o resumo das expectativas do mercado financeiro para a Selic, aponta juros subindo a 9,25% e permanecendo neste mesmo patamar até o fim de 2014. Há apenas uma semana, a projeção média para os juros era de 9,38% no fim de 2014. Houve recuo forte. A impressão do mercado mudou rápido: 2014 começa a delinear-se no horizonte com inflação ainda alta (5,88%, contra 5,75% ao fim do corrente ano). Porém, a característica central dessa inflação futura será o ajuste em preços “administrados“ pelo governo, cujo ajuste em 2014 irá a 4%, contra 1,93% este ano.

A economia em 2014 estaria, segundo o cenário Focus, no meio de um processo de resposta ao ajuste do câmbio, cuja projeção é para estar em R$ 2,25 ao fim de 2013 e em R$ 2,30 ao final do próximo ano. Essa resposta macroeconômica implica em menor ímpeto de consumo, algo que já se revela no momento atual (o endividamento médio do brasileiro subiu um pouco mais na última pesquisa do Bacen). Assim, ainda pelo Focus, a balança comercial deve parar de emagrecer, mas sem reversão do grande déficit na conta corrente externa brasileira. A correção do setor externo via câmbio, conjugada ao desequilíbrio fiscal crônico (receita tributária crescendo mais devagar e despesas ainda pressionando por todos os lados) fará do cenário de 2014 um ambiente parecido com o de 1998, um ano de crescimento baixo e véspera de grandes transformações na economia. Em 1998, para quem se recorda, venceu FHC, contra um Lula em baixo desempenho eleitoral. A derrota deste revelou-se, em seguida, uma vitória, pelo grau de dificuldades que FHC enfrentou no segundo mandato. Desta vez, quem ganhar as eleições deve estar preparado para implantar uma verdadeira agenda de transformação.

Ed.237