Por Paulo Rabello de Castro, da RC Consultores

 

Com a melhora geral na percepção de risco por parte dos aplicadores mundiais (não significando que algo tenha, de fato, melhorado!) alguns países problemáticos da Europa vêm retornando às captações voluntárias para rolar os compromissos dos seus tesouros nacionais. Anteontem foi a vez de Portugal, ao captar 750 milhões de euros com uma taxa considerada excelente, inferior a 3,60%. Essa captação indica uma mudança de perspectiva na visão, antes negativa, dos investidores sobre a economia portuguesa. Desde meados de 2013 se percebe uma reavaliação positiva, já que Portugal deixou a recessão para trás e a produtividade se recupera devagar, com a retomada de exportações em segmentos onde Portugal se destaca. Esse vento favorável coincide com a passagem do 25 de abril - a Revolução dos Cravos - que, há 40 anos, em 1974, subverteu a estagnada e tradicionalista sociedade portuguesa, pondo fim ao que restava do regime salazarista. Uma experiência socialista desastrosa se sucedeu ao conservadorismo anterior. Portugal, no mesmo período, sangrou a perda das suas bases coloniais. Doze anos depois, com a ajuda de Ernani Lopes, o país entrava para a Comunidade Europeia.

Quarenta anos passados, Portugal é outro país, embora com alguns cacoetes saudosistas. Mas está integrado à Europa e isso fica estampado na captação de anteontem. A tomada de recursos saiu a uma taxa que nada tem a ver com os números fiscais do país. Reflete a garantia implícita do BC europeu. Portugal, desde que recorreu à ajuda oficial, nunca conseguiu fazer um centavo de superávit primário, aquela poupança para pagar os juros devidos. Apenas rola as dívidas acumuladas. Compare-se com o Brasil, com reservas de quase US$ 400 bilhões, e uma base fiscal invejável (consegue sugar 40% do PIB de seus cidadãos) e, mesmo assim, se flagela por fazer, este ano, menos de 2% do PIB em superávit primário. A diferença é que, “de graça”, nosso País pratica uma política monetária altamente destrutiva, baseada nos juros reais e em encargos financeiros mais altos do planeta. O que prova a alta resistência da economia privada nacional. Se Portugal tivesse que fazer, por um ano apenas, o esforço que o Brasil tem se auto imposto nos vinte anos do Real, com certeza outra revolução, não só dos cravos, mas das rosas, dos jasmins, das margaridas e astromélias, já teria explodido à beira do Tejo.

Ed.403