Por Paulo Rabello de Castro, da RC Consultores

Os participantes minoritários no leilão do megacampo de Libra, realizado ontem, parecem ter tomado riscos razoavelmente controlados em relação a seus futuros compromissos como sócios não operacionais na exploração do óleo e gás do pré-sal. O mesmo não se pode dizer da Petrobras, que ampliou de 30 a 40% sua participação no negócio, além de arcar com as obrigações decorrentes de ser operadora pelo consórcio. O público desconhece a parte mais importante do negócio, que é o Acordo de Acionistas entre a Shell, Total, as duas petroleiras chinesas e a Petrobras. O Acordo possivelmente prevê cláusulas de saída benignas, segundo se cogita. Caso contrário, os riscos de crédito, operacional, jurídico e político de participar do consórcio não se justificariam. Basta lembrar que, por ser neonatal, ninguém sabe com que critérios atuará a importante PPSA, Pré Sal Petróleo SA, empresa estatal criada exclusivamente para representar interesses difusos do governo no negócio, com privilégio de vetar e alterar regras. A rigor, o risco econômico do negócio do pré-sal é um ponto de interrogação, impedindo qualquer avaliação financeira séria de risco-retorno por uma ótica de setor privado. Isso explica por que o “lance” único saiu com valor mínimo. E explica também a razão da desistência de tantas outras empresas pré-candidatas, especialmente aquelas que poderiam sofrer punição dos seus mercados de capitais, no dia seguinte a um lance impensado.

O leilão já começa a jorrar consequências, não petróleo. O desembolso imediato da Petrobras, de 40% de R$15 bi, ou seja, R$6 bi, será mais um teste em cima de um balanço já estressado. Os requerimentos seguintes, operacionais, muito se parecem com o esforço titânico a que se propôs o empresário Batista, só que com um fator multiplicativo de pelo menos cinco vezes. Portanto, os atrasos na execução da exploração não são uma aposta complicada de se fazer. A gestão das agendas dos sócios no projeto será outra tarefa espinhosa, especialmente pelo enorme fluxo de informações privilegiadas a que buscarão ter acesso. Isso gerará muitas tensões e possível quebra de confiança. Os chineses serão os mais preparados na arte da espera, no caso, para aguardar por desenlaces inesperados que os beneficiem. O público, do lado de fora do certame, também acompanhou a tudo, meio anestesiado, como sempre o fez desde as privatizações, realizadas sempre a portas fechadas. Havia recursos mais do que suficientes no FGTS dos depositantes, por exemplo, para participar do leilão, se assim pudessem optar, como investidores. Isso daria a todos a chance de provar que o petróleo é uma área aberta, de fato, aos pequenos investidores. Entretanto, o governo brasileiro nunca cogitou permitir tal intromissão em seus negócios. Mas os brasileiros terão sua chance de participar mais tarde: pela carga tributária mais elevada, quando faltarem recursos para cobrir os esforços de exploração.

Ed.297