Nenhuma surpresa na divulgação de hoje da Nota de Política Monetária e Operações de Crédito do Banco Central. O ritmo de crescimento do saldo e da concessão de crédito desacelerou, juros e spreads subiram, e a inadimplência do consumidor começou a se manifestar.

O saldo de crédito total que crescia a 11,1% no final de 2014, cresce em maio 10,1% e a tendência é que continue recuando ao longo do ano, para algo em torno de 8%, em termos nominais. Se considerarmos as expectativas de inflação de 8,97% para o ano, teremos um crescimento negativo de 0,89% no saldo de crédito. O crédito livre ao consumidor continua em trajetória de queda e já atinge 4,6% de crescimento nominal, ante 5,1% em dezembro. Nas concessões, a novidade foi o recuo no crédito às pessoas físicas, já que as concessões às empresas continuam em queda de 3,6%. As concessões para as famílias em 12 meses agora crescem 6,6% contra 8,4% medido em abril.

Os juros voltaram a subir, refletindo os aumentos nas taxas básicas e nos riscos dos empréstimos. A taxa para pessoas físicas subiu 1,2 p.p. no mês, e bate recorde da atual série histórica iniciada em 2011, ao atingir 57,3% ao ano. Em um ano a taxa subiu 8,5 p.p., com aumento de 1,1 p.p. na taxa de captação e 7,4 p.p. nos spreads. Como o ciclo de aperto monetário do BC ainda não chegou ao fim e os riscos estão aumentando, podemos esperar novas rodadas de aumento nos juros finais a consumidores e empresas.

A inadimplência subiu em todas as categorias agregadas. No total do sistema financeiro os atrasos acima de 90 dias chegam a 3,02%, contra 2,96% de abril e 2,73% de dezembro de 2014. Nas modalidades com recursos livres, a inadimplência das empresas segue na trajetória de alta iniciada em dezembro de 2014. De lá pra cá a taxa passou de 3,4% para 4% em maio de 2015, refletindo a maior dificuldade das empresas em honrar compromissos em cenário de retração da economia, que ainda não tem prazo para terminar.

A novidade negativa, apesar de esperada, é que a inadimplência dos consumidores, que ainda se mantinha alheia ao cenário econômico, parece começar a sentir os efeitos e a mudar de tendência. Desde setembro de 2012, quando atingiu o ponto máximo da atual série, a inadimplência entrou em rota de queda praticamente ininterrupta até dezembro de 2014 e agora dá sinais de inversão da curva. Ao que tudo indica o cenário atual deve contribuir para que a tendência de alta permaneça.