A queda da inadimplência das pessoas físicas – e, consequentemente, das taxas médias de juros ao consumidor – abriu espaço para o crescimento da oferta de crédito. Por outro lado, o elevado nível de desocupação e a fraca recuperação da renda – apesar da inflação baixa – ainda limitam a capacidade de endividamento e consumo das famílias.

Essa é a explicação da área de Indicadores e Estudos Econômicos da Boa Vista para o desempenho do varejo em 2018, “aquém das expectativas do início do ano”, conforme classificaram os economistas ao analisar o aumento de apenas 2,3% do varejo restrito no ano passado, divulgado agora há pouco na Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) do IBGE.

Os sinais de enfraquecimento das vendas do varejo ao longo do ano, bem como a queda das vendas em dezembro, por sinal, já haviam sido apontados pelo indicador do movimento do comércio da Boa Vista, que registrou recuo de 1,5% na comparação com novembro, já descontados os efeitos sazonais – a PMC mostrou recuo de 2,2% na mesma base de comparação.

Outro destaque apontado pela Boa Vista foi o impacto da Black Friday na sazonalidade das vendas do varejo no ano.

“O impacto da Black Friday nas vendas de novembro é cada vez mais evidente, especialmente nos setores de eletrodomésticos e eletrônicos, no qual as vendas do comércio eletrônico são bastante relevantes. Por outro lado, há indícios de que a nova data do comércio esteja comprometendo as tradicionais vendas do Natal, principal data do ano para o setor”, argumentam os economistas, que destacam a queda mensal de 5,1% das vendas de móveis e eletrodomésticos, após alta de 4,2% em novembro.

Ao fazer o balanço do desempenho das vendas do varejo em 2018, a Boa Vista destacou ainda o novo crescimento do setor de farmácias e perfumarias (5,9%) – “favorecido, entre outros fatores, pela crescente preocupação da população com saúde, estética e bem-estar, bem como pela transição demográfica em curso” – e a alta de 15,1% das vendas de veículos, impulsionada pela expansão do crédito.

Contudo, outros setores que dependem das condições de financiamento, como vestuário e calçados (recuo de 1,6% das vendas em 2018) e móveis e eletrodomésticos (-1,3%) apresentaram queda das vendas, sinalizando que, apesar da melhora do mercado de crédito, a capacidade de endividamento e consumo das famílias ainda segue limitada pela lenta recuperação do mercado de trabalho. “A dívida adquirida na aquisição do veículo pode ser comprometendo a renda para a compra de outros bens duráveis”, argumentam.

Os economistas ainda destacaram a queda anual de 14,7% das vendas no segmento livros, jornais, revistas e papelaria, um dos mais prejudicados pela revolução digital em curso e que, em 2018, foi especialmente afetado pelo fechamento de lojas de grandes redes do setor.

Ante a expectativa de lenta recuperação do mercado de trabalho, os economistas Boa Vista mantêm o cenário de crescimento apenas gradual das vendas do varejo nos próximos meses. Como fatores positivos, que tendem a favorecer o varejo, por outro lado, eles apontam a situação financeira mais favorável das famílias, diante da queda da inadimplência, e a maior disposição dos bancos e financeiras a ofertar crédito.