Roseli Garcia, Diretora de Relações Governamentais da Boa Vista

Um cadastro capaz de reunir informações sobre contas pagas em dia e de comprovar o histórico de bom pagador do consumidor. Parece algo relativamente recente, já que há cerca de dez anos a ideia foi colocada em prática com o Cadastro Positivo, mas a proposta é muito mais antiga. No fim dos anos 1950, a Associação Comercial de São Paulo, à época administradora do SCPC (Serviço Central de Proteção ao Crédito), hoje da Boa Vista, já discutia a necessidade de ter mais informações sobre pagamentos dos consumidores.

Ou seja, há 60 anos já se percebia que a análise de crédito feita apenas com o cadastro negativo – importantíssimo para exibir a situação atual do consumidor, devemos ressaltar – poderia ser potencializada quando combinada com informações positivas, capazes de fornecer um panorama muito mais completo e assertivo para as empresas credoras interessadas em vender a prazo, com menor risco de inadimplência.

A longa janela entre essas primeiras discussões e a implementação, de fato, do Cadastro Positivo, em 2011, evidencia a demora em enxergar toda essa capacidade. Hoje, em 2021, cerca de dez anos após o início do Cadastro Positivo, e dois anos após a entrada em vigor da lei que descarta a necessidade de autorização do consumidor para fazer parte do cadastro, temos uma visão muito mais clara do que podemos alcançar quando o Cadastro Positivo atingir seu potencial máximo, considerando que, atualmente, apenas arranhamos sua superfície.

Levantamentos internos da Boa Vista já apontam benefícios do Cadastro Positivo desde sua implementação e principalmente a partir da exclusão da necessidade de opt-in. Um deles mostra que o uso de modelos estatísticos que incluem, além das demais informações existentes também as informações do cadastro positivo, vem trazendo ganhos expressivos tanto na geração de novos negócios (e obtenção de crédito pelos consumidores) com média de 40% a mais em taxas de aprovação, quanto em redução de riscos com queda média de 35,3% na inadimplência, quando comparado ao uso de modelos sem essas informações.

Em um período como o que vivemos há mais de um ano, devido a pandemia, as dúvidas e incertezas sobre o futuro naturalmente surgem, boa parte das vezes sem respostas imediatas. Nesse sentido, contar com o Cadastro Positivo é um grande diferencial e pode contribuir até mesmo para a sobrevivência de muitos negócios, garantindo um fluxo de caixa mais saudável, em tempos de crise.

Tudo isso levando em conta que, atualmente, o Cadastro Positivo ainda espera o recebimento de informações de pagamentos de setores importantes, como Telecomunicações e Utilities, que em breve compartilharão o histórico de seus clientes, enriquecendo ainda mais toda essa base de dados. Hoje, as informações que compõem este banco de dados são predominantemente de instituições financeiras.

Outro levantamento, produzido pela área de Indicadores Econômicos da Boa Vista, fornece uma visão sobre a capacidade do Cadastro Positivo em colocar mais de 20 milhões de consumidores sob os holofotes do mercado de crédito, pessoas que hoje não são vistas ou porque não são bancarizadas ou porque não têm registro em carteira, muitas vezes tendo um baixo score por conta de pouco ou nenhum histórico de crédito disponível.

Com a capacidade de enxergar mais consumidores e empresas como bons pagadores, graças aos seus históricos de pagamentos em dia, o mercado e a sociedade como um todo ganham muito mais do que apenas crédito facilitado e redução da inadimplência. Os consumidores podem concretizar seus sonhos, de acordo com sua capacidade financeira, e os credores ampliar suas vendas, e, consecutivamente, as receitas. Em suma, o Cadastro Positivo, esta antiga ideia para novos tempos, é o combustível ideal para manter a roda da economia brasileira girando.