De acordo com os dados do Banco Central, a taxa de inadimplência das famílias com recursos livres avançou mais uma vez em setembro e agora marca 4,25%, ante 4,15%. A tendência de elevação na taxa já vinha sendo antecipada pelo indicador de Registros de Inadimplentes da Boa Vista, que havia apontado alta de 1,0% na comparação mensal dos dados dessazonalizados no mesmo período. Mais do que isso, a curva em 12 meses acumulados do indicador apresenta uma desaceleração da queda, o que sugere que a taxa de inadimplência divulgada pelo Banco Central pode continuar subindo.

Na avaliação dos economistas da Boa Vista, essa alta não deveria ser uma surpresa. Há muito tempo a inadimplência estava represada em níveis baixos em meio a um cenário econômico nada amistoso e que pode ainda piorar. Devem pesar contra o orçamento das famílias a inflação e os juros mais elevados, argumentos que ganharam ainda mais força na semana passada com a ruptura do regime fiscal. As projeções relacionadas à Selic, por exemplo, subiram de 8,25% para 8,75% em 2021, e de 8,75% para 9,50% em 2022. Resta saber se, diante disso tudo, o Copom manterá o “plano de voo” original. Semanas atrás, o Banco Central havia dito que não reagiria a toda e qualquer movimentação do mercado, o que não parece mais ser o caso.

A taxa de juros subiu mais uma vez pressionada pelos custos de captação, que passaram de 8,53% para 9,28%. O spread bancário, por sua vez, diminuiu um pouco, de 32,3 para 32,06 pontos percentuais. No final das contas, a taxa encerrou o mês em 41,34%, ante 40,83% no mês de agosto.

Mais uma vez, o aumento da inadimplência e da taxa de juros não freou a concessão de crédito, mas o ritmo de crescimento já dá sinais de acomodação. A concessão de recursos livres às famílias registou alta de 1,7% na comparação mensal dos dados dessazonalizados, em linha com o resultado apresentado pelo indicador de Demanda por Crédito da Boa Vista, que havia mostrado alta de 1,2% na mesma base de comparação para o segmento Financeiro. Na comparação interanual, o número do Banco Central subiu 20,55%, mas vinha de uma elevação de 28,57% em agosto.

Essa acomodação na concessão de crédito também era esperada. Primeiro porque parte deste crescimento se deve ao efeito base, dado que, um ano após o início da crise, ou seja, em março de 2021, a concessão apontava queda de 4,05%. Um ano antes, em março de 2020, a concessão crescia 14,69%. Em segundo lugar porque o mercado como um todo está esfriando, as projeções de crescimento são cada vez menores, ao passo que, as expectativas de inflação e juros, como dito antes, caminham no sentido oposto, de modo que o risco se torna mais elevado também.