Grande parte do empresariado brasileiro já esperava que 2015 seria um ano bastante difícil para os investimentos. Altas taxas de juros implicam em ofertas menos generosas de crédito e o cenário macroeconômico interno dificulta a previsibilidade de auferir lucros pelos agentes privados. O investimento público, na teoria, deveria aumentar para completar a lacuna de investimentos privados. No momento, no entanto, um aumento de investimentos governamentais é visto como algo altamente improvável. O governo tenta recuperar credibilidade frente ao mercado privado, implementando medidas de rigidez fiscal e monetária, combatendo em diversas frentes os problemas graves de confiança na economia acumulados nos últimos anos.
Tais políticas de austeridade são naturalmente contraditórias aos investimentos, principalmente os públicos. De acordo com estudos realizados pelo economista Mansueto Almeida, até abril a queda dos gastos públicos não foi ocasionada por um real corte de gastos de custeio (gastos com salários de servidores, manutenção etc) e sim pela diminuição dos investimentos. Na verdade houve um crescimento do custeio frente ao ano passado em torno de 4% e 5%. Assim, a queda de investimentos para atingir a desaceleração compensatória dos gastos (ainda não houve redução) foi na ordem de 35%, ou R$ 10 bilhões em termos monetários, mantida base de comparação. Tal cifra é bastante elevada, uma vez que ao longo dos quatro anos o crescimento real do investimento foi de R$ 20 bilhões, sendo R$ 11 bilhões referentes ao Minha Casa Minha Vida. Para Mansueto, se continuar nesta toada, em um ano pode-se praticamente reverter todos os investimentos gerados nos anos anteriores.
Sem a previsão de um caixa “saudável” para os próximos meses, o governo já estuda estender prazos de novas concessões em obras de infraestrutura, política impensável até anos anteriores. No caso das rodovias, tal decisão é vista como a única alternativa de compensar investimentos bilionários, dando continuidade às obras essenciais. Para as ferrovias, a ideia central é fazer uma “outorga onerosa” em alguma delas, que nada mais é que uma concessão realizada à iniciativa privada, feita em troca de pagamento.
Mesmo cedendo à iniciativa privada alguns investimentos, o cenário ainda é bastante preocupante. Menos investimentos hoje geram menor renda amanhã. Ou há corte de custeio, ou boa parte dos investimentos estará comprometida pelos próximos anos.